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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

cidades adoptivas




relembra-me de novo
essa antiga cidade
babilónia de flores e de cal,
de quando partilhamos 
o vinho de poetas 
e todo o circo sentimental,
a que nos rendíamos sempre
antes de regressarmos 
pelas névoas da volúpia

(na tentação dos corpos sem rumo nem idade)

recordas me a nossa cidade natal
embarcando no expresso 
da minha imaginação erótica

um encontro 
numa qualquer avenida 
um ataque cardíaco provocado pelo excesso
 ou apenas mais outra briga de bordel 

sem mais assunto
para a conversa de cinéfilos
sem cigarros 
e nem sitio para dormir
as donzelas oferecem-me o abrigo
e eu desmonto a trouxa 
aceitando todo o calor humano
no encouraçado abrigo de mim mesmo.



terça-feira, 20 de novembro de 2012

se os meus pássaros voassem




Se os meus pássaros
voassem 
ao ritmo das tuas ancas 
esperança que perdura,
na imensidão das insónias.
relembrando me
todos os passos
esquecidos
no secreto inventário dos deuses.

Se os meus pássaros
voassem 
entre as feras soltas deste circo
entre os cavalos cansados
que bebem deste rio
sobre a crista das ondas
que se elevam
ou apenas nesta valsa
que se dança sozinho.

Se os meus pássaros
voassem ao ritmo 
da lucidez
que se vai esbatendo por
estas trevas.
Cantando versículos,
como que de novo nomeando
a beleza profética no teu olhar.

Oferecer-te-ia
um ritmo novo,
uma dança
um sacrifício ao luar,
e como quem colhe um vestido
responderias
a cada carícia 
com uma carícia
cada apreço
como uma dádiva
respondendo até amanhã
na alvorada
sempre com um sorriso
sentenciado à luz das manhãs.
Quando os pássaros
vêm pousar na minha árvore
oferecem-se
excêntricas flores prateadas
e os lábios
cerram-se com um dedo
no ocaso das palavras
apenas para entregarmo-nos de novo
à lascívia de nossas mãos  .
Quando os pássaros
vêm pousar na minha árvore
vertem-se lágrimas circunscritas
em torno da noite
esculpindo memórias.
Quantas lágrimas mais serão precisas 
para germinar um sonho?!

Asa glaciar ferida.
Hoje, nenhuma paixão
 reconfortante nos salvará
E no entanto, todos os pássaros
seguem cantando baixinho,

a volúpia da tua Atlântida.







segunda-feira, 24 de setembro de 2012

build me a woman - The Doors



Still trying to find the shape of his "perfect" woman


Give me a witness, darling.
I need a witness, babe.
I got the poontang blues.







I got the poontang blues.
From the top of my head to the bottom of my cowboy shoes.
Build me a woman,
Make her ten feet tall.
You got to build me a woman,
Make her ten feet tall.
Don't make her ugly,
Don't make her small.
Build me a woman,
Make her ten feet tall.
You got to build me a woman,
Make her ten feet tall.
Don't make her ugly,
Don't make her small.
Build me someone I can ball
All night long.

sábado, 25 de agosto de 2012

beatitude










As cartas das cartomantes
falam-me de ti,
as imagens recorrentes
elevam-me até ti
desde o foco de luz
que a janela deixa transparecer
todo o traço rudimentar,
com que tento desenhar
o teu rosto 

o amor como sempre
foi repentino à chegada
e tal como a morte
nutri-me dos seus mistérios
incessantemente debatendo-me 
com as suas forças e destrezas 
e por vezes cruas realidades 
os opostos atraem-se obséquios 
as flores silvestres despontaram      
e mesmo depois da navalha que brandiu 
entre obscuros dias, deixaram nos com o seu perfume

a fuga até aos pontos mais recônditos 
na lucidez do mar silêncio
como quem finalmente saiu da caverna de Platão
tornando-se o primeiro discípulo ao luar 
dos seus sentidos despertava novamente a beatitude 
entre a discórdia do mundano
e a eterna busca pelo divino.












quarta-feira, 25 de julho de 2012

let it kill you





Max Ernst

through every night
it kills me
your endless trace
which I follow
from body to body
in this maze


to seek harmony
in your power of individuality,
 flavor and sensuality


in another
midnight ride
i'm looking for her again
looking for her tonight


sipping
all the nectar
to burn memories
in a new distress
all life on the edge
but never look down
never look down
or cease to find love
a cure too pure
too vain
in this gain


segunda-feira, 16 de julho de 2012

divinity in wilderness (mi divinidad del desierto circular)



winds of Fedra,

in rage

whistling 

through a somber stage


we stare

through her ethereal visions,

the past will now asunder 

with fair devilish precision

from where our human fragility

crumbled

and humbled us 

to ease 

an unholy litany

the only sound in the air

breathes in our spirits, invisible and fair

muttering 

through savage's homes

and underground passages

into a shelter made of dry bones


we leave the offerings 

to praise  

homewards, where this thirst still burns

envoys from beyond 

deny us nothing

nothing is more 

than sand 

slipping through 

my hand

since 

i saw you around


a heart attack , a glass house 

were the hurt and rust is kept


feed the flow 

of the soundscapes 

in mighty landscapes

to astound

the merry priests 

in timeless images of their feasts

a rite of alchemists

to evoke her solemnly

into us

a map of souls

written in ancient scrolls

large scrolls that we recite

as we traversed through the halls


-to where all queens once dwell











 

segunda-feira, 2 de julho de 2012

a esfinge de calipso








um sonho lúcido

para libertar

 as almas num voo de pombas

entre as fissuras das muralhas

que nos impedem de amar.

i



As harpias
cantam 
os versos enfeitiçados.
A neve caí
sobre os corpos cansados. 
Madressilvas
entregues aos ventos
na aurora-boreal do esquecimento.

ii

O mistério esse permanece
adensando-se, incógnito
e o seu coração 
é um livro caro leitor,
um livro que vos tento descrever. 
A loba mãe e a filha
que nos bosques 
devoram todos os comuns homens,
a quem lhes fizeram
promessas de imortalidade.






     

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Diários de Bordo - Impressionismo em Paris

                                                                     
 Perante a inesperada expectativa de uma mulher com ares de modelo em que eu lhe comprasse um quadro que não passava de uma imitação barata dos pintores do impressionismo talvez Degas não me recordo agora, isto numa loja no bairro chique de Marais eu disse-lhe que pretendia um dia tornar me uma personagem de banda desenhada...não, agora mais a sério, sorri como um bom cavalheiro e arrepiei caminho.
  Sem as pretensões elitistas de grande parte das pessoas que se cruzavam pelo meu caminho, homens calvos e baixos de fatos Armani com modelos loiras altíssimas, lojas com fachadas Art Noveau...enfim é Paris, França. Longe vai o tempo dos guerreiros gauleses como Vercingetórix que cobriam os cabelos com banha. Nos bairros mais suburbanos povoados por marroquinos, argelinos e restantes povos do norte de África o sentido estético destes não deixava de ser estranho, quase egocêntrico, americanizado, as marcas de roupas que encontramos nas feiras cujo os rótulos se assemelham aos que são feitos na América...o que nos deixa com a ideia de que este tipo de franceses procurava ser uma imitação não assumida apenas por orgulho tolo dos americanos, não o típico gaulês atenção...esses eram como os pequenos gauleses loiros de olhos azuis que brincavam junto ao Centre Pompidou, ou como o pai rude no olhar e na fala que segurava a criança ao colo no comboio nocturno que fazia o percurso de Hendaye até Paris. Vi tipos bem vestidos que parecem me o Luis Garrel de mão dada com tipas loiras aos caracóis cujas feições lembravam-me Sophie Marceau isto no Quartier Latin ao olhar para a montra de uma livraria vi também uma mulher sexagenária a passear o seu cão,uma mulher que podia muito bem passar por uma qualquer actriz reformada como Jeanne Moreau ou Brigitte Bardot e até as esbeltas garçonettes dos cafés me lembravam actrizes de cinema, sentei-me no primeiro andar do Les deux Maggots só para sentir a perspectiva de onde Hemingway escreveu o seu A Moveable Feast isto entre os olhares de desdém dos turistas americanos e até dos empregados que olhavam para as minhas calças de bombazina quase desbotadas e  ar de vagabundo, fiquei um ou dois minutos a contemplar essa mesma perspectiva e a imaginar-me no lugar do escritor até que fugi, antes que o empregado me viesse perguntar se queria tomar alguma coisa, algo que já tinha feito por exemplo no Martinho da Arcada em Lisboa onde me sentei no mesmo lugar onde Fernando Pessoa tinha o hábito de se sentar, o lugar do retrato de Almada Negreiros. Voltando de novo a Paris, devo confessar que sentia-me mais desenvolto quando sair de noite fazia tudo mais sentido, tornava me mais desenvolto, mais sensível ao saudar nocturno da cidade, que era muito próprio e individualista, de beleza inconfundível sempre, sensual, delicada...isto não é nenhuma novidade visto ser a cidade do absinto cantante e das bailarinas de Cancan que ficaram imortalizadas pelo pequeno/grande Toulouse - Lautrec, torna-se assim fácil perpetuar-nos numa tela a preto e branco e quase imaginarmos a Jean Seberg a dizer "New York Herald Tribune" nos Champs- Élysées. Tenho vindo a encontrar alguns portais através desta minha estranha viagem. E cada vez mais apaixono-me por esta dama que distintivamente nos faz perder nos seus segredos, esta cidade vulnerável que se parece aos poucos apoderar da tua alma. E eis que paro de novo junto do Sena e do cansaço de andar de mão dada com todos os fantasmas do passado, sinto os fluírem lentamente por mim, como que exorcizados e livres e para isso  bastava-me apenas cerrar os olhos sentia-me ainda enclausurado em mim próprio muitas vezes e as pessoas pareciam notar isso, como foi o exemplo o caso de um simpático e  atencioso casal americano alfarrabista que terá 
tentado depois aprofundar uma conversa comigo sobre o Socialismo e certos movimentos libertários. Confesso que se calhar também na altura não teria ainda toda a informação para falar abertamente sobre esses assuntos. Por sua vez parava para fixar-me durante alguns minutos em todos quadros antigos a preto e branco de uma loja de antiguidades que me causaram fascínio ao mesmo tempo que intimidavam. Um outro alfarrabista, este francês depois de me perguntar se eu escrevia oferece-me flyers de concursos de escrita criativa. 
Uma loja de utensílios de Absinto e de cartazes art nouveau, tudo na mesma rua algo me fazia sentir de facto estar na zona certa da cidade.



sexta-feira, 15 de junho de 2012

os teus sonhos destilam o meu vinho





entre
os dois mares
que se navegam
e as terras
que nos segregam

todos os sonhos
seguem alimentando-se
na espera
aonde um gosto acre a morte
já exaspera

esse calafrio sem voz
que seduz
corpo da mais obscura leveza
que nos conduz.

há no entanto
uma outra voz no esquecimento
uma sombra
que se move pelo firmamento
insurgindo-se
pelas horas tenebres
em que os filhos furtivos
resolvem escolher
a noite.

em cada conto
eu escuto
à tona de agua
enigma primaveril
sou o filho pagão
que a loucura tece
e atordoa
sem princípios,
nem um fim

em cada conto
invocando um reencontro
nas estâncias oníricas em que se revelam
pelos labirintos de Dédalo.

aonde trovas se cantam
aos nossos
corações exilados.

lava assim de novo,
o teu olhar na penumbra
e teme
pelo incendiário
delito dos sentidos.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Quarto Minguante

Costuma-se dizer que a lua é mentirosa.


segunda-feira, 11 de junho de 2012

in a pledged way









unveil 
a path to nothingness 
again,
the direction 
is hidden in the soil 
(the stones are now casted)

tune it now,
that mysterious dance
through the alienation
that took us 
by chance

tune it all,
at the same heart beat.

on the steeple 
the word and the fiddle
simple meanders 
to touch them
smoothly 
there, where it hides the sun
burning roupes to eternity
languish voices in a trance
it all sounded mild 
in the borderlines
of a new orphan star

spiritual mother,
remarking the trails
reclaiming the wisdom, 
breaking all our imaginary prisons
a bit of stardom, from you my lover
a bit of dirt, underneath my nails














quinta-feira, 31 de maio de 2012

Diários de Bordo - Barcelona





Finalmente um pouco de descanso! Nem acredito que seja já 5ªfeira. Saí 2ª feira de manhã directamente para Sevilla, tendo chegado por volta das 13h30. Durante o percurso no autocarro aproveitei para ler o clássico do Hemingway sobre a guerra civil espanhola "Por quem os sinos dobram". A forma como Hemingway conseguiu captar o carácter caloroso dos espanhóis como se fosse um deles e ao mesmo tempo distanciar-se como o estrangeiro era torna-se sem duvida uma das virtudes deste livro. Levei várias semanas adiando a viagem retido por burocracias à espera do dia em que pudesse finalmente concretizar a fuga. No primeiro dia em Sevilla conheci uma rapariga madeirense, que curiosamente também vivia em Faro e embora nunca tivesse tido o privilégio de a conhecer por lá tal como a personagem no livro de Hemingway também se chamava Maria. Quando ela entrou no autocarro ainda fiquei na expectativa que se viesse sentar no lugar que se encontrava vago ao meu lado. Mas ela limitou-se a passar por mim sorridente e foi de isentar-se no banco de trás e entretanto para aumentar mais o meu desconsolo, um grupo de noruegueses entra na paragem seguinte, tendo o mais obeso sentando ao meu lado.Durante as 3 horas seguintes praticamente não me consegui mexer, como sol de fim de verão andaluz fustigando me pela janela. O tipo norueguês tornava-se realmente incómodo, restava-me o meu olhar desconsolado  para Maria, ao qual ela respondia com um leve sorriso trocista, como que entendendo o meu desconforto...após os devaneios sevilhanos que acabaram por valer apenas por revisitar a Plaza de España, as cerca de 4 horas debaixo do maldito calor desidrataram-me completamente. Estava de volta à estação dos autocarros, ressequido e cansado, esperando pelo autocarro para Barcelona quando a vejo sentada sozinha à entrada com um ar bastante preocupado. Ela dirige-se a mim,insegura, pois tinha acabado de perder o autocarro para Málaga e via-se forçada a ter que pernoitar em Sevilla. Pobre miúda, se não fosse o facto de ter logo comprado o bilhete do autocarro para Barcelona e teria calorosamente aceite aquele convite para ficar com ela, poderíamos ter passado a noite ao relento conversando nos bancos dos jardins andaluzes, ou então quem sabe até a fazer amor nalguma residencial recôndita na Calle Sierpes. Por breves momentos poderíamos assim esquecer toda a amargura de dois seres solitários neste vasto mundo.
Tinha finalmente começado esta viagem-revelação de como todo este mundo não passa de um sonho esperando por nós... desejoso de ser vivido em toda a sua plenitude.
   Ao vislumbrar Barcelona de autocarro, o smog cobria o horizonte ainda distante desta cidade, que tinha a curiosidade de se situar ao mesmo tempo entre as montanhas e junto do mar. Barcelona poderia ser uma possível futura capital desse reino europeu que parece estar na forja já à algum tempo, se a União Europeia por alguma razão algum dia se viesse a tornar nos Estados Unidos da Europa a capital deveria chamar se Barcelona, nem Copenhaga, nem Berlim, nem sequer Madrid. Penso isto principalmente pela localização periférica. No entanto  a capital catalã é de facto uma cidade muito própria, antiga e ao mesmo tempo moderna, liberal e jovem  surrealista sempre como se houvesse um pouco de Gaudí, Miró ou Dalí em cada avenida. Quatro pessoas viriam a marcar-me profundamente, quarto possíveis irmãos noutra encarnação,companheiros de viagem que muito provavelmente não voltarei a ver, pois apenas a brevidade dos dias poderia permitir tais ligações que embora efémeras serão certamente mais marcantes que a maioria que por vezes temos no nosso quotidiano. Ao chegar à pousada, quando tentei dirigir-me à recepcionista com o meu péssimo castelhano, ela sorriu-me e falou em português com sotaque brasileiro, mais tarde estava deitado na parte de cima do beliche, embrenhado no que me restava ler do Hemingway,quando entra um tipo de rastas, trazia também o seu vinho numa garrafa de plástico e um stick que utilizava para fazer o jogo do "devil stick" com fogo nas ruas, servindo lhe de sustendo,quando este tentou dirigir-se a mim no seu péssimo castelhano, naturalmente que sorri também e disse-lhe "podes falar em português comigo". Uma amizade curiosa esta a que travei com ele, dois sonhadores uma demanda por algo mais do que material criamos forte empatia e falamos de tudo o que era relacionado com misticismo, espiritualidade, Lsd, meditação etc. O I. conhecia a cidade pois já lá tinha vivido alguns meses, curiosamente nunca tinha estado no Oceanário junto ao porto marítimo de Barceloneta. À medida que I. ganhava confiança e desenvoltura no seu diálogo comigo,ia também aos poucos confessando pormenores íntimos das sua viagem que tinha como objectivo principal ir até à Turquia, quando trocamos moradas ele prometeu dar-me todas as novidades assim que chegasse ao destino, embora pela maneira como esbanjava facilmente o dinheiro tanto em bebida como em roupa, principalmente chapéus, eu ficasse duvidando que se alguma vez ela terá conseguido chegar ao seu destino. Quando tentava interpelar-lhe e chamar-lhe à atenção por isso, ele limitava-se a sorrir e a mostrar a sua flauta para tocar na rua, como que dizendo "no worries mate!". Quando regressamos à pousada, um homem sexagenário entrava connosco na habitação,estava bastante revoltado e falava sozinho,tentava disfarçar o seu desconforto por nos ver ali com o seu péssimo castelhano com sotaque brasileiro, eu e o I. automaticamente olhamos um para o outro e desatamos a rir pois percebemos naquele instante que a brasileira da recepção estava a tentar juntar todos os nativos do português no mesmo quarto. Era o J., antigo repórter fotográfico brasileiro que voltava da Alemanha de onde tinha assistido ao casamento da sua filha. E que histórias impressionantes nos tinha para contar, desde a vez que esteve em Cuba numa conferência e do privilégio que foi conhecer Fidel Castro,ele tornava-se assim um pouco como a personagem daquele avozinho da nossa infância que nos contava histórias. Foi casado 6 vezes e desejava agora ir a Portugal para procurar uma antiga paixão portuguesa, era um romântico e só para ouvir as suas histórias de amor já quase valia a pena ter feito esta viagem a Barcelona. No dia seguinte J. travaria conhecimento com E., espanhola de Madrid que tinha vivido e estudado em Tomar .E o nosso "Band à Part" estava assim completo. Era um contraste interessante aquele que havia entre J. e E.,ao qual eu ia assistindo quando nos dirigíamos para a Casa Batló, depois da nossa visita à Sagrada Família. E. vivia certamente a amargura de uma separação recente e isso notava-se no seu timbre de voz e na descrença que afirmava manter acerca do acerca do amor, mas simpatizou imediatamente com J. Durante a noite fomos aos bares do Bairro Gótic e lembro-me carinhosamente destes momentos, até à despedida do J., que foi o primeiro de nós a partir, na madrugada do terceiro dia.







Diários de Bordo - Vilar de Mouros





As memórias de um festival ficam quase sempre em loop pelas nossas cabeças da mesma maneira que a terra se entranha pelos poros enquanto regressamos a casa de mochila às costas, subnutridos e após várias noites mal dormidas. A primeira memória que me ocorre de Vilar de Mouros é a de chegar à Ponte Velha com isto assistindo a todos os que nadavam no riacho perto das árvores. Fumando e comtemplando toda a perspectiva ampla enquanto conversava com os meus 3 companheiros de viagem, uma rapariga com tranças passava por mim sorrindo como que a dar-nos as boas vindas a todos a ver nos a chegar de tendas nas mãos. Ouço-a dizer algo em espanhol ao amigo e subitamente apercebo-me o quanto lindo é o sotaque uruguaio, assim como eram os seus cabelos loiros e o sorriso fácil, um prenúncio bastante positivo para o que viria a ser o resto do festival. Fui desprendendo a voz aos poucos à medida que deixava seduzir por esta espécie de liberdade festivaleira que funcionava muito melhor de noite. Num certo dia, talvez mesmo no último, após horas de convívio com uns tipos alentejanos resolvi ir para dentro da tenda com o intuito de ler um livro, mas não me conseguia concentrar para tal...a erva e o vinho fluíam furiosamente, encostei o livro e sem conseguir adormecer muito por culpa dos gemidos de um casal numa das tendas ao lado da minha que assim se entretinham sem qualquer tipo de preocupações. Até que finalmente aos poucos adormeço entrando numa espécie de transe, num plano de realidade estranho em que parecia ter a capacidade de comunicar com grupos de pessoas minúsculas, tipo gnomos, que viviam em grutas junto ao rio que se encontrava perto do nosso acampamento. De repente sentia me num barco flutuando esse mesmo rio, deitado, como se fosse Gulliver, o gigante das viagens enquanto as criaturas iam aos poucos saindo das tocas, com as suas barbas longas e os chapéus pontiagudos para acenar me. Tudo tão assustadoramente real, que, quando despertei fiquei na dúvida se tinha chegado mesmo realmente a adormecer.




O principal motivo que me fez deslocar ao Minho este ano foi o facto de o Bob Dylan ir lá tocar, o que creio que acontecia pela segunda vez em nosso solo em mais de 40 anos de carreira. Numa das edições anteriores de Paredes de Coura já tinha sido a estreia de um outro grande senhor canadiano de Ontário, que se viria a tornar mítica. E se a prestação do bardo profeta americano do Minnesota, tantas vezes comparado a Shakespeare pelo número infindável de obras "do outro mundo" nesta edição do festival seria pelo menos para mim uma desilusão pela sua prestação alienada, quase totalmente desprovida de contacto. O canadiano por sua vez e a banda Crazy Horse brindaram todos os presentes com mais de duas horas de um show imparável, destilando o mais puro rock n' roll à chuva. Diz quem viu que este será mais um daqueles concertos inesquecíveis feitos para perdurar para sempre no imaginário pessoal de todos os amantes de música em Portugal.






Como o Dylan não deixou ninguém gravar nada do concerto dele...ficam aqui alguns apontamentos de dois dos concertos que mais queria ver. PJ Harvey e The Cure.









quarta-feira, 30 de maio de 2012

Fragmentos de pensamentos III


*P.s. Escrevi este texto por volta dos meus 19 anos e isso reflete-se um pouco 
Apenas fiz algumas alterações gramaticais para não tentar deturpar o sentimento/ impulso de quando o escrevi.


O mundo trata-se de uma ilusão e nós os próprios ilusionistas.
Chego a duvidar se realmente existirá um passado, pois todas as ideias do passado no presente adquirem novas formas sendo por isso condizentes com os diferentes estados de espírito e a mentalidade dos interpelados.
Não existe futuro pois nós é que construímos o nosso próprio mundo assim como a noção de bem e de mal.
Haverá apenas o acto e consequência.

Nunca o meu discurso foi constituído por diálogos deambulantes, cheios de ênfase e vocabulários bem ornamentados. Embora, por vezes, eles se insurjam em rasgos de frontalidade inesperados. O que me leva a crer que afinal sempre estiveram aqui presentes, vencendo esta timidez atípica. Ao invocar as experiências que pairavam algures pelos labirintos da mente dando vida a vozes que embalam nos nossos poemas, libertando e redimindo.
E a música, o que definirá um acorde perfeito, a qualidade agradável dos sons, o consenso para todos os que escutam esse mesmo equilíbrio sonoro?! Ou será apenas a associação das "coisas" em si que torna possível que se coloquem os rótulos de "surrealista", "futurista" ou "punk rock" para a posteridade...creio por isso antes numa vontade mística que nos possa fazer superar toda essa sensação sermos apenas e só o ermo de algo perecível. 
Como diria Shakespeare em Hamlet - "This mortal coil".
   
A criação artística não será mais do uma sublimação desse mesmo vazio, a criança que persiste em nós e que nos leva a (re)criar novos mundos e esquecer assim a permuta da cognição. Muitos de nós acabamos por ignorar tal vontade, pois bloqueando-se esses impulsos supostamente torna-se mais fácil criar-se uma personalidade, moldável apenas e só com as vicissitudes da vida numa tentativa de coerência com aquilo que a realidade exterior nos pressiona a ser.
   
A minha "persona" ri-se por vezes da tal castidade que visa fixar a personalidade de cada um como algo de imutável - o estigma da personalidade fixa. As intransponíveis almas de cimento não querem transparecer uma rude obrigação social. Mas ela existe! Para mim, para ti e para todo o mundo que nos espera lá fora pronto a nos desfazer em pedaços. Na génese do estereotipado a intuição sem objetividade dá lugar então à castidade frontal. Silêncio. Consegues-me mesmo ouvir?! Eu sei que sim. E sim, sei que muitas vezes consigo ser intuitivo...mas não objetivo. imagens em cadeia me insurgem constantemente...abstractas, divinas, alucinantes, imensas, demoníacas... impossíveis de descrever.
E é entre todas elas que tento encontrar o ponto convergente, o equilíbrio entre os pólos.
Foi sempre o que me fascinou tanto em Blake.
Ele conseguia-o.
 

Ansiosas por serem milionárias, as donas de casa recriam todas as suas ilusões românticas vendo novelas. Enfiados na poltrona as conversas ao serão servem apenas para tentar travar as distâncias entre pais e filhos, pais que trabalham 12 horas por dia. Assimilados os estereótipos para que numa descarga de consciência possamos forjar todas as conversas artificiais (...)
Que sociedade se exprime hoje em dia nos nossos meios familiares?!
Quem sara as verdadeiras feridas escondidas na ilusão que nos é projetada pelos televisores?!
O que mais permitirá assim esquecer-se o quanto se é explorado por patrões totalitários que forçam a agarrarmo-nos a uma vida de sedentários?!
E por todas estas casas onde passeava nesta cidade, por todas as janelas e por todos os cafés com animação noturna depois do jantar... lá se encontrava o tal ecrã luminoso, o alegre quotidiano de Portugal entre telenovelas, talk-shows, Big Brothers e futebol.



Aldeous Huxley dixit



"A TV será a principal responsável por um declínio da capacidade de memorização das crianças hoje em dia e também nos defeitos da articulação discursiva. A TV leva-nos a sonhar acordados um estranho sonho projetado por um estranho vindo de um lugar estranho invadindo o ecrã da nossa mente.

Podemos já ter entrado numa era em que a informação é despejada no inconsciente colectivo, se assim for esse tal pequeno ecrã não será mais do que uma maquina hipnopédica"


Personagens para um projecto em BD


Miguel de la Fuente

Presumível assassino em série
Refugiado na Bolívia.
36 anos.Condenado a 6 anos de pena em 1996 por participação em contrabando de armas, 2 vezes detido por assalto à mão armada e posse de heroína.
Descrição física- moreno, olhos azuis,robusto e com feições sul-americanas
1,90m / 93 kls

Vlatko Victovic

Presumível assassino em série
Natural de Vojvodina(Sérvia),actualmente reside em Génova (Itália)
Suspeito de ser correcto de apostas ilegais, tráfico de armas e ligações à Camorra(Máfia Siciliana).Suspeito no atentado ao ministro da administração interna italiano ocorrido o ano passado.Nunca foi detido.
Teve treinamento especial nos serviços das tropas especiais de Montenegro
35 anos
Descrição física-cabelos loiros e olhos verdes,robusto com uma cicatriz característica no queixo resultante de uma rixa de bar com o seu meio- irmão Tomislav.
1,75m / 72 kls

Lady Foresse

De nome verdadeiro Alicia Monterey, é viúva de Sílvio Foresse, preumível barão da droga ligado à máfia siciliana, suspeita-se que seja amante de Vlatko Victovic.Embora costume agir sempre sozinha, especialista em furtos de obras de arte e falsificações no mercado negro.
Especialista em artes marciais(Kung Fu, Takeondo e Fujitsu)
Descrição física - Cabelos castanhos e longos,semelhanças nas feições com a cantora Sinnead' O Connor
1,74m / 62 kls

fire birds

dreary glare
through out mystic spaces 
between us
a broken wishbone
amulet to lure - all crooked light 

cold december 
dust winds
whistling, 
like quivering leaves
and burning
like desert sands

poignant provender 
of fiery seeds
with the blackest of sorrow
and desdain of the earth
opening oak doors, ´
in silence
 
fall,
into the tide 
of a dream wave
winter deities,the secret garden had eyes 
to witness wisdom
elusive night visions
through neon shrouds, city passages 
that brought us
into one single place

- where we bend
to see some
fire birds.