Ah, o anseio pelo comum, pelo que todos conseguem consumir sem qualquer esforço
– eis o veneno que obscurece a percepção dos criadores.
“(...) É preciso livrar-se do mau gosto de querer estar de acordo com muitos. "Bem" não é mais bem, quando aparece na boca do vizinho. E como poderia haver um "bem comum"? O termo se contradiz: o que pode ser comum sempre terá pouco valor. Em última instância, será como é e sempre foi: as grandes coisas ficam para os grandes, os abismos para os profundos, as branduras e os tremores para os subtis e, em resumo, as coisas raras para os raros.”
A minha primeira guitarra acústica foi me emprestada por um amigo chamadoLígio(que chegou a fazer parte de uma banda deSilves chamada Teasanna Satanna) e seria com ele e com um outro tipo que costumávamos tratar pela alcunha de"Barba" que começaríamos a tocar juntos mais frequentemente (curiosamente o seu irmão mais novo era o"Barbicha") eu tinha o hábito de levar um pequeno gravador portátil comigo e lembro me particularmente de uma sessão de improvisos com as nossas acústicas na mata, perto da vila de Odiàxere, aonde o Barba residia.
Talvez influenciado pelos noruegueses Ulver eu daria a essa nossa sessão e ao posterior "projeto" em si o nome pomposo de Lobos Lusitanos.
A nossa ideia inicial partia em fazermos algo inspirado na mitologia celta/ pagã e nas lendas tradicionais do Algarve.
Tanto que tentamos desenvolver igualmente uma fanzine com esses temas a que se daria o nome de "Myth Zine"
A ideia passava por compilar algumas lendas e juntarmos artigos com entrevistas e reviews a bandas underground que nos chegavam, fossem pro outras zines, flyers ou pelo tape trading feito por correspondência postal.
Aos poucos e durante anos comecei então por trocar correspondência com bandas de todos os lados.
Desde sei lá, Israel, Colômbia, Bélgica, Polónia, Brasil, Espanha, etc
Alguns tornaram se meus amigos, desde o baterista dos Embalmed (Brasil) o guitarrista de Sad Etheus(Israel), a rapariga da zine "Demónios Lusitanos" (acho que era assim que se chamava) tenho alguma pena por ter acabado por perder o contacto com muita dessa malta, alguns provavelmente terei voltado a cruzar me com eles em festivais, concertos etc sem sequer saber quem eram.
Durante muito tempo nunca me considerei nem "músico", nem "poeta", ou "fotografo" ou o quer que seja...talvez por nunca tenha passado de um eterno "projeto de" em que me tenha faltado sempre algo mais. Poderia dizer dinheiro principalmente, mas também disciplina, o eterno síndrome de querer fazer mil e coisas ao mesmo tempo e acabar por nunca fazer nada. Talvez por eu próprio me descredibilizar, isso faz por consequência que muita gente em meu redor acabe por fazer o mesmo comigo.
Mas a verdade é que ando já há muito tempo a pensar corrigir todas as minhas lacunas e gostaria por exemplo de voltar a tocar baixo numa banda. Recordo me sempre do Sr. Willem ter me emprestado o baixo Tobias para ensaiarmos algumas vezes e se bem me lembro ele só tinha começado a tocar depois dos 50.
Pode ser que um dia, até consiga tocar Bossa Nova, em vez de Black Metal.
Há sempre aquele tipo de coisas que gostaríamos de poder fazer mais regularmente na vida, há quem gostasse por exemplo de ir até à "Grande Muralha da China" eu pessoalmente preferia poder voltar a ter 15 anos para poder tocar música a sério.
Quando mudei-me de casa no Algarve, passei montes de tempo a revisitar algumas das k7's antigas com um leitor que tinha adquirido com esse propósito pouco tempo antes.
Acabei por descobrir algumas dessas gravações, recordei muita palhaçada, muita risada à mistura mas acabei por descobrir também algumas das gravações que fiz depois sozinho.
Parecia tudo muito mais simples, pois havia muita imaginação para se fazerem coisas com poucos meios, recordo me até de colocar uma k7 com gravação de um riff meu a tocar repetitivamente durante vários minutos na aparelhagem enquanto improvisava por cima com voz, sem micro, ou tentava fazer uma segunda guitarra.
Mais tarde, cheguei a ter um pequeno teclado emprestado.
(não tinha guitarra elétrica na altura).
Depois, com o gravador portátil, gravava todo o tipo de sons e compilava.
O som do elevador, os passos nas ruas, colocava dentro de um bidão e tocava percussão por cima, no mato improvisávamos cânticos, mas um dos meus sítios prediletos para gravar era quase debaixo da ponte dos comboios.
Quando o comboio passava por cima das nossas cabeças.
Nunca entendi, no entanto, nada de programas de gravação e aliás nem sequer tinha ainda computador na altura.
E, mesmo mais tarde, durante anos continuei sem perceber absolutamente nada. Sempre fui tremendamente primitivo no que a tecnologias dizia respeito, não consigo entender por isso mesmo como me deixei levar pelo engodo das redes sociais durante tanto tempo.
Sou talvez capaz de ter lido uns manuais acerca da Ableton, and that's it....
Segundo uma tradição antiga do folclore ibérico, uma pessoa pode transformar-se num homem lobo através de uma maldição lançada por um dos seus progenitores.
A pessoa afetada por este tipo de licantropia é chamada assim de "lobo da xente" e é condenada a vaguear indeterminadamente, assassinando outras pessoas.
E qual não foi o miúdo, hoje graúdo, que não tenha tido esse sonho?
Mas não sonhava em marcar golos, nem fazer jogadas de levantar estádios.
Sonhava antes com grandes voos planados, sonhava em ser guarda redes e relembro-me do quanto vibrei ao ganhar o meu primeiro par de luvas, as mais baratas das que haviam na loja claro está, pois para o meu pai eram para serem gastas entre os jogos de putos de rua, os tais em que paus e pedras servem sempre como postes de baliza.
Há pouco tempo atrás, enquanto ajudava nas vindimas anuais da nossa pequena quinta no Alentejo apercebi-me que o meu pai ostentava o meu boné de outrora cuja existência tinha-me esquecido por completo nesse momento retirei-o da sua cabeça de imediato e procurei em vão pelos sinais das assinaturas que os jogadores do Sporting tinham me dado por alturas de um jogo particular no Algarve.
Num flashback instantâneo recordei-me desses momentos de infância, e com um sorriso nos lábios tornei a colocar o boné, bem no alto da sua cabeça.
Relembro este episódio hoje, simplesmente porque ao longo dos anos esta crença sportinguista e principalmente esta minha crença pelo futebol como um desporto de competição íntegro e honesto terá começado igualmente a desbotar lentamente da mesma forma que todas essas assinaturas.
Relembro-o também pelas saudades das "jogatanas" que eu e todo os restantes miúdos costumávamos ter no campo pelado perto de casa durante o Verão depois das incursões clandestinas até à barragem, sempre em finais de tarde quando a temperatura se tornava mais amena e suportável.
Enfim, Também são saudades do desporto escolar, dos treinos após as aulas e de fazer desporto em geral. O Futebol e o Karaté foram os únicos desportos que alguma vez pratiquei.
Acordo e espreito pela janela...o deus dos trovões não dá tréguas hoje.
Chuva e vento comprovam como este se encontrava chateado com todos nós, e eu vou tentando comunicar como todas estas entidades omnipresentes desde a tua ausência, nesta ressaca silenciosa em que a memória do teu rosto resiste na tenacidade de um quarto escuro.
Hoje tinha pensado ir a Lagos. Adormecer no areal da Praia do Pinhão. Não me perguntes o que esta cidade sempre teve de especial, pois eu próprio também te não sei responder. Talvez seja pela mobilidade de quem foge à rotina diária e desses mesmos rostos macambúzios, quase moribundos que te cercam, intimidam e como que te prendem a fala. Assustei-me no outro dia, enquanto tentava falar com alguém e não conseguia...apercebo-me cada vez mais de que as drogas têm esse efeito em mim...cavar cada vez mais fundo o abismo que me separa da nossa comunicabilidade. Mas Lagos, Lagos....bem, de facto hoje faz sol em Lagos. E é pela janela do comboio que espreito e te escrevo agora estas palavras no meu caderno de apontamentos e parece até que aqui a tal entidade divina e omnipresente já não se encontra mais chateada conosco. Um nervoso miúdo invade-me, como me fosse reencontrar me contigo pela primeira vez desde daquela noite que nos conhecemos, talvez não seja Lagos mas antes sim tu o destino pelo qual eu tanto anseio. Algumas dúvidas antecederam esta vinda, que já estava planeada há muito mas que a falta de tempo parecia não querer permitir. Ao visualizar a Marina, ao sentir de novo essa brisa relembro-me novamente de ti e dos teus cabelos que dantes eram curtos e agora imagino-os longos, inquietos e selvagens...um dia virás aqui comigo também. Os locais falar-te-ão as mais belas praias do país e até mesmo os pequenos grupos de holandeses e alemães, os foreigners, cidadãos foragidos do rebuliço das cidades grandes te irão dizer que este é um lugar tranquilo para se viver.
Paris, centro nostálgico, lar de todos os gatos siameses.
Dos vagabundos e dos olhares sedutores de damas cujos suspiros levianos são enigmas na perdição da noites.
Engenho meteórico de pesadelos invisíveis à revelia de uma noite interminável, em que todos seguem pelos mesmos trilhos no auge da virtude.
A procura constante de viver histórias dignas de serem relatadas, junto dos seus semelhantes, na demanda por um ser justo mas igualmente capaz de dar ao sonho um outro valor, uma outra benesse. Sujeitos reflexos de um sol, em que mapas eram traçados por uma vida sem facilidades mas ao mesmo tempo sem lugares comuns ou tempos mortos.
Todas as conversas por vezes eram difíceis de acompanhar, podia-se até dizer que tentaram à maneira típica do romantismo atingir toda a pureza de espírito dos “bons selvagens” estando por isso dispostos a abdicar das respectivas famílias e de todas as leis laborais para assim preservarem a toda a sua genuinidade.
Rejuvenesciam ao fazer amor com os anjos, mas era apenas e só do desgosto que seguiam procriando.
Seriam talvez os únicos a não ficar indiferentes à mudança das estações quando a frescura da primavera finalmente chegava.
Vivendo sonhos de uma nobreza mística que desordenadamente se perdiam entre o caos dos vícios e das paixões.
"Tu le connais, lecteur, ce monstre délicat hypocrite lecteur, — mon semblable, — mon frère!"
"People are strange when you're a stranger; faces look ugly when you're alone..."
A musa, simples cortejo dos ventos, com o olhar aguçado, crescia em nós.
Osso descarnado numa terra devastada pela fome.
Havia em si o apelo "dos bons selvagens", do regresso a essa liberdade das origens, através do recordar de vidas de grande autores que outrora por ali também tinham passado.
Não era a Mona Lisa, talvez lembrasse antes com o raiar da aurora Jeanne Hébuterne vista de perfil qual um busto de mulher serena, aprontando-se para seduzir.
Como exteriorizar todas essas vozes do nosso desgosto
seguindo implorando loucura,
nas noites em esta que nos é servida por pajens loucos
sentindo a sombra dos teus dedos na pele
irmã incestuosa da morte,
foice que ceifa sobre a terra
essa revelação torpe
do além, não escolhe a sua sorte
o doce murmúrio da manhã.
cumplice de toda a verdade incompressível dos mitos
escutada ao longo da noite
nenhuma mais voz te faria fraquejar
trêmulos passos a demarcar o território
seguindo
continuamente
por todas as estreitas passagens
sur le ciel de paris
(sigamos brindando à vida boémia dos anjos)
Que hoje te lembres finalmente quem és.
Ou serás tu,
um mero pragmatismo
dos sem fé
nos dias de hoje?!
Derrick Nightingale
(qui est-vous?!!)
o olhar vazio do músico de rua anuncia as confidências que em breve este irá começar a cantar ao luar
“What is my joy if all hands, even the unclean can reach into it? What is my wisdom, if even the fools can dictate to me? What is my freedom, if all creatures, even the botched and the impotent are my masters? What is my life, if I am but to bow, to agree and to obey?
"I am done with this creed of corruption. I am done with the monster of "we"
"I see the face of God and I raise this god over the earth, this god whom men have sought since man came into being, this god who will grant them joy peace and price.