Acordo e espreito pela janela...o deus dos trovões não dá tréguas hoje.
Chuva e vento comprovam como se encontra chateado com todos nós, e eu vou tentando comunicar como todas estas entidades omnipresentes desde a tua ausência, nesta ressaca silenciosa em que a memória do teu rosto resiste na tenacidade de um quarto escuro.Hoje tinha pensado ir a Lagos. Adormecer no areal da Praia do Pinhão.
Não me perguntes o que esta cidade tem de especial, pois eu próprio também não sei responder. Talvez seja pela mobilidade de quem foge à rotina diária destes mesmos rostos que te sufocam e prendem a fala. Assustei-me no outro dia, enquanto tentava falar com alguém e não conseguia...apercebo-me cada vez mais de que as drogas têm esse efeito em mim...tornar cada vez mais fundo o abismo que me separa da nossa comunicabilidade.
Mas Lagos, Lagos....bem de facto faz sol em Lagos...
E é pela janela do comboio que espreito e te escrevo agora estas palavras e parece até que aqui a tal entidade divina e omnipresente já não se encontra chateada connosco.
Um nervoso miúdo invade-me, como me fosse reencontrar contigo pela primeira vez desde daquela noite que nos conhecemos, talvez não seja Lagos mas antes tu o destino pelo qual eu tanto anseio. Algumas dúvidas antecederam esta vinda, que já estava planeada há muito mas que a falta de tempo parecia não querer permitir.
Ao visualizar a Marina, ao sentir de novo esta brisa relembro-me novamente de ti e dos teus cabelos que dantes eram curtos e agora imagino-os longos, inquietos e selvagens...um dia virás aqui comigo também. Os locais dir-te-ão as mais belas praias do país e até mesmo os pequenos grupos de holandeses e alemães, os foreigners, cidadãos foragidos do rebuliço das cidades grandes te irão dizer que este é um lugar tranquilo para se viver.
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