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domingo, 13 de julho de 2025

lords in the mud

Relembrando como me tornei quase acidentalmente vocalista de uma banda, devo confessar que inicialmente até fiquei bastante reticente ao aceitar o convite do meu amigo Félix, pois queria dedicar me a fundo ao meu projecto Lobos Lusitanos que entretanto tinha ficado como um projeto a solo quando o Lígio resolveu abdicar de continuar no mesmo. Para além disso já tinha começado a ensaiar como baixista numa outra banda que nunca avançou.
Um dos motivos pelo qual fiquei reticente eram os riffs do Félix que na verdade achava enfadonhos numa fase inicial, embora reconheça que o rapaz nunca rejeitou a responsabilidade de tomar conta das rédeas da banda tornando se o principal compositor e mentor da mesma, let's say...tendo em conta a sua maturidade fora do vulgar para tipos que ainda nem tinha tinham atingido a maioridade, penso que o João Reis teria o quê?! 13 ou 14 anos na altura. 
E só de pensar que o tipo nem conseguia acertar com os riffs ao inicio.
Mas de alguma forma todas as "duras" que o outro João(Branco) lhe dava às vezes, mexeram com ele, tanto que se inscreveu nas aulas de guitarra com o mestre Tuniko Goulart. O toque do virtuoso professor de guitarra brasileiro faria se sentir apenas numa questão de meses. E a evolução de JR seria brutal.
Mas o que mais me revolva ao fazer uma retrospectiva desta banda é que quando entrei e nem levava a coisa a sério foi quando demos o maior número de concertos, todos iam nos ver e apoiar...e na verdade não tocávamos um caralho. E eu pura e simplesmente não sabia o que fazia ali em palco...era mais um entertainer  do que vocalista. Todos os membros da banda ao inicio simpatizavam mais comigo do que com o anterior vocalista, como ele também não era assíduo e não parecia levar aquilo a sério. Então o que acontecia era que na sua ausência muita das vezes improvisava eu com o micro e eles pareciam curtir. Quando o vocalista deles adoeceu apenas 2 semanas antes do tão ansiado festival denominado de "Algarve em Chamas" foi a mim que recorreram para não declinarem o surpreendente convite do Bruno Correia (In Tha Umbra) o organizador do evento Eu aceitei ir, mas apenas após alguma insistência por parte deles, com uma condição apenas, de que tocássemos um cover à minha escolha. E a cover que eu escolhi era a "Death Crush" dos Mayhem. Na verdade sentia que éramos maus, muito maus ainda. Maus não no sentido que éramos uns tipos beras...mas sim que não tocávamos nada e depois tentávamos para compensar parecer um pouco mais beras do que realmente éramos. A meu ver era esse o segredo de grande parte da cena "trve" para disfarçar as limitações musicais, só que eu ainda não o sabia, não tinha ainda a noção desse facto. Embora tivesse a noção suficiente para achar que não estávamos preparados para tocar ao vivo, quanto mais abrir um festival com aquelas bandas. A  verdade é que para o bem e para o mal acabou por ser o único festival com as 5 principais bandas de metal do barlavento algarvio. Faltaram apenas os lacobrigenses Sad God Said. Uma banda que muitos pareciam depreciar, embora eu gostasse bastante, talvez por também ser mais próximo da malta de Lagos que eles.
Facto curioso, os Teasanna Satanna deram também o seu primeiro concerto nessa tarde/ noite. 
E foi no backstage que após muito fumos e bebidas, quando já estava literalmente "anestesiado" que o teclista deles me deu animo para ir para o palco. A primeira pessoa a vir me falar me depois do concerto foi o tipo de Agonizing Terror. Eu como que queria era esconder me pois achava que tinha sido tudo muito mau, nisto como que um gajo enorme, com uma sleeve de Morbid Angel e um aspecto cavernoso, veio falar com a maior simpatia. Que memória estranha. Outro facto é que o local estava cheio de pessoas. O nosso Algarve tinha sido invadido de metaleiros de todo o país. Mas não só, pois naquela altura os concertos não eram exclusivos da comunidade do metal, vinha muita gente que nada tinha a ver.
O maior pecado, a meu ver, não só nas músicas que tocamos nesse concerto, mas durante algum tempo foi o de não termos noção de como construirmos uma canção. Então tentávamos incorporar todas as ideias numa só música, uma autentica mistura de riffs sem pés nem cabeça. O que fizemos depois de uma sequência de 3, 4 concertos seguidos que demos seguidos ainda sobre o nome de "Raven's Fire" ( corvo de fogo...ou algo assim) eu detestava o nome da banda e insistia constantemente que deveríamos muda-lo. Até porque tinha sido um nome sugerido pelo anterior vocalista e eu achava que precisávamos de entrar na nossa nova fase com um nome novo. Cada concerto que demos com aquele nome, sempre que subíamos para o palco eu dizia "Boa noite, nós somos os "Ravers on fire". O primeiro passo passou por desconstruirmos as músicas que tínhamos. 
E da salganhada de riffs aproveitar apenas uns poucos. E quando as músicas ainda não tinham nome. 
Dar nome às músicas era o meu papel. Mas antes que me surgisse algum nome inventávamos por isso nomes para os riffs, o "o riff feliz", "o riff caralhudo", etc
A primeira música que fizemos sobre o nome "Lycanthropia" foi a "lords in the mud". 
Era claramente um novo capitulo na banda. E nesta música eu contribui com riffs, JR,JB e Félix também.
Um dos riffs que mais me marcou nessa música era o riff que eu tinha baptizado de "Orgasmo", feito pelo JB. Chamava lhe assim porque era "a abrir" depois um dedilhado todo gloomy em que tentava encaixar algumas letras com voz "limpa" ou cantada digamos assim e o JR tocava umas notas por cima com efeito marado de pedal chamado "flanger". 
O "Orgasmo" parecia mais um rip off de Gorgoroth, ou daí talvez não, no entanto talvez fosse o riff mais Black Metal que tivéssemos alguma vez feito. 
E porquê lords in the mud ?! Na verdade, é que durante algum tempo não consegui encontrar uma explicação racional.
Tentei como que "psicanalizar me" antes de escrever este texto e surgiram me várias hipóteses...talvez derivasse do facto de ser um Tolkien geek na altura e me tivesse lembrado da cena dos hobbits a caminharem com o Gollum em direcção a Mordor entre pântanos lamacentos e pestilentos a caminho de Mordor. Ou talvez apenas me tivesse lembrado do famoso clip dos Sepultura "Territority". 
Pensei nessas duas hipóteses, mas na verdade e digo isto com todo o despretensiosíssimo e humildade possíveis na verdade é que acho que era mais uma critica para a realidade da cidade em que crescemos. 
Depois daquela sequencia de 3,4 concertos durante algum tempo não conseguíamos tocar em lado nenhum e principalmente na nossa cidade num período próspero de concertos com a criação de um palco para esse efeito no principal ponto de encontro dos adolescentes daquela na altura, o Skatepark.
Mas a verdade é que éramos como que as "ovelhas negras", os renegados dos "eddie vedder's wannabes" da geração grunge que anos mais tarde se tornaria a geração do "nu metal" e "metalcore". 
E por isso nunca conseguimos ir lá tocar. 
Além disso um dos nossos últimos concertos, no refeitório da minha antiga escola básica na verdade tinha sido uma cacofonia de caos e barulho.
Eis que começávamos uma música com o meu grito " Show me blood!!!". E nisto uma rapariga subia para o palco e desatava a derramar uma garrafa de corante para cima de todos...agora que penso nisto, vem me a imagem estranha, tresloucada, em que alguns subiram ao palco todos encobertos por aquele sangue falso. Parecia quase uma cena de canibalismo.
E eu limitava me a observar tudo, quase como que incrédulo também.
Tudo isso causou uma forte impressão, éramos adolescentes e naquela altura não havia redes sociais para se investigar acerca da vida dos outros, mas a verdade é que as pessoas pareciam ter receio em convidar-nos para concertos depois disso. 
Pareciam ter receio acima de tudo de mim. Muito sinceramente.
Para além de que nada tínhamos a ver com as restantes bandas daquela cidade. 
Daí então o nome " lord's in the mud", no fundo eu sentia essa como nossa evolução como banda numa cidade que não só nos rejeitava e nos ignorava como que até nos difamava, embora admita que se calhar a minha reputação como o desordeiro e caótico "líder dos satânicos" também não tivesse ajudado.
Papel esse que nunca senti vontade nenhuma em desempenhar. 
Hoje em dia acho que até seria um nome fixe para uma canção "Doom/Stoner" ou até para o nome de uma banda.

" we, alien lords in your mud world/ 
we grow in secret wisdom/ 
we rise from the mouthfull of our own spoiled hearts"






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