Quando Anabela Moutinho, do Cineclube de Faro, durante a apresentação do filme de Michel Gondry referiu-se ao mesmo como "uma das mais belas histórias de amor do cinema" pensei que tal afirmação só poderia ser exagerada e inflacionada pela ocasião. Depois da sessão percebi o porquê.
Com um argumento escrito pelo singular Charlie Kaufman este filme não é mais que uma bela metáfora da natureza do amor, de como este é construído durante anos de intimidade e de como nos completamos através da presença de uma outra pessoa nas nossas vidas. Quando Joel (Jim Carrey) resolve imitar Clementine (Kate Winslet) e "apagar-la" da sua memória não é só ele que se arrepende de tal decisão, Clementine (pre)sente a falta da peça que era Joel na sua existência, compreendendo que de facto só nos sentiremos completos através do olhar dessa pessoa amada. A forma como ambos tentam sobreviver aos "apagadores de memória" é de uma beleza comovente e verdadeiramente singular nunca antes vista em cinema. Destaco também o papel de Kate Winslet que lhe valeria um Óscar, sem dúvida justo pois foi do melhor que já lhe vi fazer.
De referir que fiquei durante dias com a música de Beck na cabeça.