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terça-feira, 22 de setembro de 2009

Fragmentos de Pensamentos II (acerca da música e do cinema) / Recomendação Cinematográfica (Alphaville - Jean-Luc Godard)

 Quase sempre desde que me conheço como pessoa que a minha grande paixão é a música. Creio mesmo que já ouvia Beatles na barriga da minha mãe, isto apesar de os meus pais nunca terem partilhado essa paixão comigo com o passar dos anos. Apesar de tudo, quando o "velho" ofereceu-me a primeira aparelhagem com leitor de Vinyl e CD (na altura ainda uma novidade tão fascinante como os Ipod’s hoje em dia) que maravilha...vários foram os soundtracks que demarcariam as fases da minha vida e durante todas essas fases sem dúvida que foram os Beatles quem mais me acompanharam, não deixa de ser curioso tentar perceber a evolução dos meus gostos, através das minhas músicas preferidas. Assim sendo, apesar de inicialmente gostar mais das músicas tipicamente McCartnianas com o Hey Jude e o The Fool on the Hill ou o Ob-la-di,Ob-la-da (que aparecia no genérico de uma das séries televisivas mais marcantes da minha infância...cujo o nome agora não me recordo) da colectânea The Beatles / 1967-1970 , mais tarde estas cederiam o lugar às composições de Lennon (A Day in the Life,Lucy in the Sky with Diamonds, Across the Universe) e Harrison ( While My Guitar Gently Weeps, Here Comes the Sun)
Infelizmente,nunca terei conseguido desenvolver como gostaria toda esta minha “obsessão” pela música na forma prática e com a aprendizagem necessária para compor as minhas próprias melodias. Embora essa seja ainda uma esperança que vá sempre acalentando secretamente. Só foi mais recentemente, e após alguns flirts com a poesia e com o desenho, é que descobri esta outra grande paixão e esta embora nunca chegasse ao nível “obsessivo” da música oferecia-me toda uma diferente dimensão em termos de possibilidades criativas e sensoriais a desenvolver.
A interpretação godardiana do que é o amor, seja através do diálogo ou do jogo de sombras entre as personagens toca-me de uma maneira indelével. 
Verdadeiramente genial... para já, não estou a conseguir parar de ver este excerto.
Obsessivamente.








A tua voz, os teu olhos,
as tuas mãos, os teus lábios.
O nosso silêncio, as nossas palavras.
A luz que desaparece,
a luz que regressa.

Um único sorriso para os dois.
Por precisar de saber,
vi a noite criar o dia
sem que mudássemos de aparência.

Ó bem amado por todos e bem amado por um.
Em silêncio, a tua boca prometeu ser feliz.
"Afasta-te, afasta-te", diz o ódio.
"Aproxima-te mais", diz o amor.

Pelas nossas carícias, saímos da infância.
Vejo cada vez melhor a forma humana.
Como um diálogo entre amantes,
o coração só tem uma boca.

Tudo é ao acaso.
Todas as palavras são espontâneas.
Os sentimentos à deriva.
Os homens vagueiam pela cidade.

O olhar, a palavra.
E o facto de eu te amar.

Tudo está em movimento.
Basta avançar para viver,
seguir em frente, em direcção a tudo o que amamos.

Ia na tua direcção, seguia sem parar em direcção à luz.
Se sorris, é para melhor me envolveres.
Os teus braços luminosos entreabrem o nevoeiro.


Paul Éluard

sábado, 19 de setembro de 2009

Fragmentos de pensamentos - 2001

Era um domingo de manhã 
e a magia do teu olhar 
jamais será esquecida
o esplendor nas cores 
que de ti emanava,
o encantamento dos teus lábios 
afrontava
enquanto bebíamos todas as tentações 
com o teu andar

- antes de ti, curvilínea resplandecência
antes das manhãs nebulosas
e numa prolongada ausência 
(a violência abrupta do sentir)

Ainda acreditas 
tu no livre-arbítrio
Quando tudo 
por vezes 
parece permanente
e imponente 
como a noite 
de onde me surgiste? (…)


(…) Como um sonho prostrado à porta de casa 
aqui jaz a inocência!
Vivência que renasce
e se materializa 
sempre
somente 
a um passo da alienação total
mas os sons permanecem…vagos…
ecoando no sótão desta casa vazia…
mais do que uma luz
é a voz pagã da esperança…
trágico deslumbramento
de figuras desmembradas pelo destino,
sugadas e enterradas algures…
assassinadas pelo porvir
que ao mesmo tempo insiste 
em germinar novas sementes,
as exiguas formas de amor...
ávidas e trêmulas
reflexos de uma noite em flor...
fragmentos triunfais 
de uma redenção celestial
descendo vertiginosamente,
recolhendo um a um 
os sonhos esquecidos
no resguardo do espanto...
embarco de novo 
nesta viagem noctívaga,
o retorno ao ponto de origem,
onde 
pernoita ainda 
a nossa inocência...
Verdes campos…relegados ao abandono
Não te sentes tentada a vir comigo
mais uma vez explorá-los?
Panteões do Paraíso
onde cada mármore,
cada pedra lacônica ganha vida…
de todas formas maciças e todos os métodos infligidos 
nas falácias do nosso dia a dia
resistem às súplicas 
por mais um favor...
por mais um dia
Pudesse eu transformar 
toda esta raiva contida
de quem por vezes 
se esquece de saborear 
verdadeiramente as coisas
em cantos e odes para todos os operários 
que perfilam 
no inferno 
da indiferença 
desta cidade!

(…) Hoje junto-me aos meus amigos para ouvir falar mal de tudo o que nos rodeia, critica-se o governo, critica-se o sistema educacional, os patrões, os nossos pais, os nossos filhos (sim, porque já há entre nós quem os tenha) e toda a nossa sociedade de “débeis mentais”.
Sendo nós incapazes de olhar para a realidade do nosso país com uma força empreendedora e construtiva abundam no entanto ideais passados em folhas de Xerox , este primado da oratória em detrimento de uma força empreendedora que as realize arrisca a falência de todas as ideias realmente inovadoras…”este é um país amputado, sem pernas para andar” dizemos todos nós em uníssono…mas não seremos nós que estaremos realmente a cortar as pernas a este país?...Podia levar horas a interrogar-me e a chegar a conclusões que na pertinência e legitimidade da nossa revolta nos pudesse realmente fazer “andar” até a algum lugar mas a fadiga atinge-me novamente, tal como a nostalgia , que não é facilmente disfarçada por todas estas conversas de índole politica.

(Janeiro 2001)


wicked rebels of a forsaken sun 
ravenous and sensuous
as new cult

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

jim carroll



* Patti Smith e Jim Carroll algures nos loucos anos 70


Não era o Joe Dallesandro
Não era o William Blake
Jim Carroll era antes
o Catholic Boy
um anjo da decadência
observando tudo
desde os arranha céus da city.

a fúria silenciosa
num poema para Mapplethorpe
e a sua inseparável amiga Patti
uma encomenda 
para todas as nossas futuras exéquias

A natureza da poesia
como veneno 
no sangue 
que ela colheu
meditativamente


ela sabe-o,
é esse o caminho
 de todas as palavras, 
ela escolhe-o,  
e enquanto pensa nele
olha para o homem mártir -açoite no braço
esquecido pela luz
ilumina-lhe a alma
e procura de novo
a perfeição do canto do bezerro
lúgubre
como a brisa que queima a vela
do rapaz órfão



- Fala-me Jim...
Fala-me das tuas curtas-metragens 
sem títulos,
das nossas trevas escondidas, 
e dos passeios 
ao Jardim Zoológico
Fala-me 
de todas as horas
em que não nos podíamos tocar

estas são as nossas
ruas sem sono Jim,
conta-me 
uma vez mais
todos 
os teus sonhos urbanos.


é o amor 
às portas de casa
vendido em pequenas bíblias
por meninas 
de vestidos em espartilho

Por favor sê breve,
breve 
como as nossas vidas

- como 
as asas
que estremecem
num adeus.




                                                       "Always remember to keep your river on the right..."



“First he tried to be pure now he just wants a cure
He's wasted, his skin's sore, he's flat-out poor
When you live in doubt that's when your luck runs out
He's on the roof alone, outside the zone
Now he's on the street again when he calls him then
Billy just cannot resist 
Now he's an orphan sleeping with the coffins
Just like Oliver Twist”

(Falling down Laughing)



From: Jim Carroll Band - Dry Dreams (1982) LP Vinyl
Opening Poem: Lorraine



Seven blonde women
They gather in the square
They raise their hands up to the sun
Their skin is so thin and white
You know their fathers must surely be wealthy
I watch the others stand around and form a crucifix
A serpent of vapor
Some stray birds rise
The one on the end, the fine one on the end
She called me over, she pulled me aside
She said, You know, I have to make it all look different
It seems that every time I lay down
On it, and its like a snake in water
And when I look out of it,
It's like the one from last week
Was breathing again
And she said she had some white light
You know, she said that she had some morphine
But she didn't have no gimmicks
So she just took this razor
And she laid it on a white vein
And then she took a black orchid
And she just ripped apart that flower
And then she took the white light
Then she said, Hey, later for the morphine
She took the razor and slit open her white vein
She slit open her white vein
She put the flower through the slit vein
She poured the white light through the red stem
She put the white light through the red stem
She just poured it through the red stem
I was talkin' with my angel
I was talkin' with my angel then . .








quarta-feira, 16 de setembro de 2009

luar de outono


She was the mirror of all her vanity/
mother nature raped in all her purity





pelas horas do sonho
e sob todas as faces da lua
um manifesto de corpos  
fulgurantes
consumindo-se
a conspiração animal 
dos desejos revigorantes.

Entre as névoas
e os céus vespertinos
dançamos por ti
filhos de uma celestial divindade
como uma benção
banhada a sangue no Nilo
- a luminescência,
que queimou as asas do anjo 

a inocente vigília
pelo silêncio só nosso 
nas orlas das marés sem idade,
e com os lobos selvagens
que silenciosamente continuam a uivar.

Nesta feira das vaidades.
Nós sabemos quem nos odeia.
Nós sabemos quem nos consome.

Luar de Outono,
entre as horas 
negadas à aurora
uma brisa de cinza cintilante
num instante ,
retratado a sepia.



ventos de norte que sopram de novo







Nas vozes dos campestres
anuncia-se 
através dos bosques 
que virá uma nova companhia de teatro à terra
Falar-nos-á de tenras ilusões? Ou nos fará rir?
  Com os seus jograis esquecidos 
na indiferença da audiência
e as actrizes, calêndulas serenas no limiar da noite 
sonhando com o gato do Cheshire.


Vejo nas crianças que brincam na relva
a policromia que alimenta 
a imaginação nos dias baços
que rejuvenesce nesta mensagem
e na sensação de sentir
que chegou a hora para nos amarmos

Vejo por detrás desse teu véu prateado
bem nítidas, as origens das nossas esperanças
jogos entre luz e escuridão
sensações de me dividir 
intimamente
nas vidas paralelas 
que me fizeram esquecer de ti

Ventos de norte que sopram de novo

O sopro madrigal
pelas manhãs de nevoeiro
na revolta dos sentidos
 no terminar da planície,
 uma nova paisagem recomeça
outrora esquecida
neste vasto mundo 
de sucessivas imagens lacónicas.

Espíritos indígenas que recolhem, 
nas distâncias do mundo
o apego a este, 
no lamento do ermita
pelos horas do desassossego
Cavalos vagueando pelas planícies

Ventos de norte que sopram de novo


segunda-feira, 14 de setembro de 2009

dreamers







Les Amants Réguliers(Phillipe Garrel)
                            


Visions from this side of paradise

C’est le Amour Fou

arriving for us,
passengers
in the prime of our passions
come hither, all words
shall be drawned in walls
- but the essence,
yet is still to be found.
Quite amused
I rediscovered
a fleeting memory,
recalling
the wild beauty
which whispered at me
with her long untidy hair full of leaves...

“Lover, you can go to sleep now…
I’ll soon be back again!”