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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

cidades adoptivas




relembra-me de novo
essa antiga cidade
babilónia de flores e de cal,
de quando partilhamos 
o vinho de poetas 
e todo o circo sentimental,
a que nos rendíamos sempre
antes de regressarmos 
pelas névoas da volúpia

(na tentação dos corpos sem rumo nem idade)

recordas me a nossa cidade natal
embarcando no expresso 
da minha imaginação erótica

um encontro 
numa qualquer avenida 
um ataque cardíaco provocado pelo excesso
 ou apenas mais outra briga de bordel 

sem mais assunto
para a conversa de cinéfilos
sem cigarros 
e nem sitio para dormir
as donzelas oferecem-me o abrigo
e eu desmonto a trouxa 
aceitando todo o calor humano
no encouraçado abrigo de mim mesmo.



terça-feira, 20 de novembro de 2012

se os meus pássaros voassem




Se os meus pássaros
voassem 
ao ritmo das tuas ancas 
esperança que perdura,
na imensidão das insónias.
relembrando me
todos os passos
esquecidos
no secreto inventário dos deuses.

Se os meus pássaros
voassem 
entre as feras soltas deste circo
entre os cavalos cansados
que bebem deste rio
sobre a crista das ondas
que se elevam
ou apenas nesta valsa
que se dança sozinho.

Se os meus pássaros
voassem ao ritmo 
da lucidez
que se vai esbatendo por
estas trevas.
Cantando versículos,
como que de novo nomeando
a beleza profética no teu olhar.

Oferecer-te-ia
um ritmo novo,
uma dança
um sacrifício ao luar,
e como quem colhe um vestido
responderias
a cada carícia 
com uma carícia
cada apreço
como uma dádiva
respondendo até amanhã
na alvorada
sempre com um sorriso
sentenciado à luz das manhãs.
Quando os pássaros
vêm pousar na minha árvore
oferecem-se
excêntricas flores prateadas
e os lábios
cerram-se com um dedo
no ocaso das palavras
apenas para entregarmo-nos de novo
à lascívia de nossas mãos  .
Quando os pássaros
vêm pousar na minha árvore
vertem-se lágrimas circunscritas
em torno da noite
esculpindo memórias.
Quantas lágrimas mais serão precisas 
para germinar um sonho?!

Asa glaciar ferida.
Hoje, nenhuma paixão
 reconfortante nos salvará
E no entanto, todos os pássaros
seguem cantando baixinho,

a volúpia da tua Atlântida.