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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

lisbon city blues

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                                            Eduardo Gageiro



Lisbon City Blues


Olisipo,
a filha de Ulisses,
que se esqueceu do hino da nação
numa outra cidade, seria eu a sua narcótica canção

sem ninguém mais para te amar
nem ninguém mais para te temer
não te esqueças das bebidas
não te esqueças de ecoar todas as nossas causas desmedidas
e de abrigar os teus filhos nocturnos
com a palavra crente, quase amarga
absurda por vezes,
mas que ninguém acuse de ser fingida

da sua noite foraz,
brotam sorrisos e beijos
pela hora das colheitas, que nos trás
a erva-das-maleitas para todos os ensejos

Cidade Mãe
embora muitas vezes
também madrasta.
andrajosos corsários,
vivem amores efémeros,
entre vielas e becos escondidos
ancorados às contradições
mercenários com corações tatuados,
entregues ao repouso austero.
até à hora das despedidas,
sem apegos nem distinções

Já o Alberto Caeiro sabia.

"O Tejo é de facto o rio mais belo da minha cidade,
mais não seja porque é o rio que corre pela minha cidade"


Displicente
como todos nós
vulgos da sua colectiva memória
O Tejo será sempre isso,
o rio ao qual
o nosso olhar se entrega casualmente
aos céus do esquecimento.

Mas tudo é perfeito,
Por estar vazio,
Porque perfeito
e vazio,
nem sequer está acontecendo.
entre o rio que nos separa
um sonho interdito, num fado desdito
um fado quase maldito,
maneirismo corporal de uma utopia
revolução esquecida 
que recompensou toda a letargia
à distância desta nossa dicotomia
pela vivida excentricidade das suas ruas, um pranto
vive-se intensamente o sentimento, que em breve passará a lembrança
estrela de papel, elegendo uma outra esperança
o brilho esse deve se ao vinho rubro que encanta



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