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segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

no céu nocturno do pensamento / nietzsche

 No céu nocturno do pensamento,

onde as estrelas não estão fixas,

mas em constante movimento,

sento-me entre as tábuas quebradas

e renovadas promessas.

A velha canção do "bem" e do "mal" ecoa nos ventos,

desgastada,

sem brilho,

tesouro das bocas que repetem o que nunca foi seu.

Ah, o anseio pelo comum, pelo que todos conseguem consumir sem esforço – eis o veneno que obscurece a percepção dos criadores.


“(...) É preciso livrar-se do mau gosto de querer estar de acordo com muitos. "Bem" não é mais bem, quando aparece na boca do vizinho. E como poderia haver um "bem comum"? O termo se contradiz: o que pode ser comum sempre terá pouco valor. Em última instância, será como é e sempre foi: as grandes coisas ficam para os grandes, os abismos para os profundos, as branduras e os tremores para os subtis e, em resumo, as coisas raras para os raros.”

– Friedrich W. Nietzsche, em Além do Bem e do Mal: Prelúdio A Uma Filosofia do Futuro.

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

the skeleton's garden

 tell me 

who knows when heavens cry?

they know it

down there

in skeleton's garden


the key to a sanctuary

oblivion of figures

they lay

under the stones

silent, shred light on the emptiness


testimonial 

remains 

of the forgotten 


tell me, 

who knows

the difference

between wrong and right?

they know it

down there 

in skeleton's garden


sexta-feira, 15 de novembro de 2024

lobos lusitanos

A minha primeira guitarra acústica foi me emprestada por um amigo chamado Lígio (que chegou a fazer parte de um banda de Silves chamada Teasanna Satanna) e seria com ele e com um outro tipo que costumávamos tratar pela alcunha de "Barba" (curiosamente o seu irmão mais novo era o "Barbicha") eu tinha o hábito de levar um pequeno gravador portátil comigo e lembro me particularmente de uma sessão de improvisos em que tivemos sentados com as acústicas na mata junto à vila de Odiàxere

Talvez influenciado pelos noruegueses Ulver daria a essa nossa sessão e ao posterior "projecto" em si o nome piroso/ pomposo de Lobos Lusitanos. A nossa influencia era muito derivada da mitologia celta/ pagã e das lendas tradicionais do Algarve. 
Tanto que tentamos desenvolver igualmente uma Fanzine a que demos o nome de "Myth Zine". A ideia desta zine era de tentarmos compilar algumas dessas lendas e juntarmos a isso artigos com entrevistas e reviews a algumas bandas underground que íamos conhecendo aos poucos nessa altura, durante anos cheguei a trocar correspondência com bandas de todos os lados. 

Desde sei lá, Israel, Colômbia, Bélgica, Polónia, Brasil, Espanha, etc

Durante muito tempo nunca me considerei nem "músico", nem "poeta", ou "fotografo" ou o quer que seja...talvez nunca tenha passado de um eterno "projecto de" em que me terá faltado sempre algo mais. Diria dinheiro principalmente, mas também alguma disciplina, o eterno síndrome de querer fazer mil e coisas ao mesmo e acabar por não fazer nada. Mas verdade é que ando já muito a pensar corrigir todas estas lacunas e gostaria por exemplo de voltar a tocar baixo numa banda. Recordo me sempre do Sr. Willem ter me emprestado o baixo Tobias para ensaiar algumas vezes e se bem me lembro ele só teria  começado a tocar depois dos 50. 
Pode ser que um dia ainda consiga tocar Bossa Nova em vez de Black Metal
Há sempre aquele tipo de coisas que gostaríamos de poder fazer mais regularmente na vida, há quem gostasse por exemplo de ir até à "Grande Muralha da China" eu pessoalmente preferia poder voltar a ter 15 anos para poder tocar música a sério.
Quando mudei-me da casa no Algarve passei montes de tempo a revisitar algumas k7's antigas com um leitor que adquiri de propósito há pouco tempo. Acabei por descobrir algumas destas gravações, recordei muita palhaçada, muita risada à mistura mas acabei por descobrir também algumas dessas gravações que fazia sozinho. Parecia ser tudo muito mais simples, pois havia muito mais imaginação para se fazer coisas com poucos meios, recordo me até de por uma k7 a tocar o mesmo riff repetitivamente durante vários minutos na aparelhagem stereo enquanto improvisava por cima com voz, sem micro, sem nada...cheguei a ter um pequeno teclado midi ou com a viola acústica (não tinha elétrica na altura).Depois com o gravador portátil gravava todo o tipo de sons e compilava. O som do elevador, os passos nas ruas, colocava dentro de um bidão e tocava percussão por cima, no mato improvisávamos cânticos, mas um dos meus sítios predilectos para gravar era debaixo da ponte dos comboios. Quando o comboio passava por cima das nossas cabeças.
Nunca percebi no entanto nada de programas de gravação e aliás na altura nem sequer tinha computador. 
E mesmo mais tarde continuei sem perceber.
Era tudo feito de uma forma bastante tosca.




Segundo a tradição do folclore ibérico, uma pessoa pode transformar-se num homem lobo através de uma maldição lançada por um dos seus progenitores.
 A pessoa afetada por este tipo de licantropia é chamada assim de "lobo da xente" e é condenada a vaguear indeterminadamente, assassinando outras pessoas.








quarta-feira, 23 de outubro de 2024

em breve

 Em breve,


dizem-me todos os astros

os espíritos

tornar-se-ão voláteis

quase intemporais

dentro do útero do tempo

sempre

um pouco mais além

do que toda a penumbra oceânica

onda celestial , harmonia tântrica

é o regressar do sonho

que se estende, sempre pelas manhãs

ânsia pura

reescrita

nestes dias de espera

pela tua inefável presença.

na gaveta um escrito

límpida era a proscrita memória

num mundo mais pequeno, num lugar de que sentia falta

as paisagens do interstício

desdém que me condenava a alma


longínquo como o mundo

vago como as palavras dos deuses

a evocação deles, procurei-a em ti

para a perder de novo num segundo


eleva me esta divina força criativa

que cresceu da terra, mãe

de onde evocamos todos os espíritos

Ó êxtase, mergulha as mãos

na alba

cospe o fogo e verte

a saliente veia da noite,

a vidente augura-me

o teu retorno.

- em breve

será novamente manhã.

domingo, 8 de setembro de 2024

diários de bordo - memórias alentejanas

 


Quando era miúdo sonhava em ser futebolista. 
E qual não foi o miúdo, hoje graúdo, que não tenha tido esse sonho? 
Mas não sonhava em marcar golos, nem fazer jogadas de levantar estádios. 
Sonhava antes com grandes voos planados, sonhava em ser guarda redes e relembro-me do quanto vibrei ao ganhar o meu primeiro par de luvas, as mais baratas das que haviam na loja claro está, pois para o meu pai eram para serem gastas entre os jogos de putos de rua, os tais em que paus e pedras servem sempre como postes de baliza. 

Há pouco tempo atrás, enquanto ajudava a minha família nas vindimas anuais da nossa pequena quinta no Alentejo apercebi-me que o meu pai ostentava o meu boné de outrora cuja existência tinha-me esquecido por completo nesse momento retirei-o da sua cabeça de imediato e procurei em vão pelos sinais das assinaturas que os jogadores do Sporting tinham me dado por alturas de um jogo particular no Algarve. 
Num flashback instantâneo recordei-me desses momentos de infância, e com um sorriso nos lábios tornei a colocar o boné, bem no alto da sua cabeça. 
Relembro este episódio hoje, simplesmente porque ao longo dos anos esta crença sportinguista e principalmente esta minha crença pelo futebol como um desporto de competição íntegro e honesto terá começado igualmente a desbotar lentamente da mesma forma que todas essas assinaturas. 
Relembro-o também pelas saudades das "jogatanas" que eu e todo os restantes miúdos costumávamos ter no campo pelado perto de casa durante o Verão depois das incursões clandestinas até à barragem, sempre em finais de tarde quando a temperatura se tornava mais amena e suportável. 
Enfim, Também são saudades do desporto escolar, dos treinos após as aulas e de fazer desporto em geral. 
O Futebol e o Karaté foram os únicos desportos que alguma vez pratiquei.


terça-feira, 6 de agosto de 2024

alien (nation)


  alien (nation)


alienating myself
from what future corpse 
i might be
fleeing myself 
from this masochistic murder 
of the self 
and from all wicked nature of men 
a midway warning
to a defiance of being

restless places
where you reborn, shredding the skin
as old as their values, 
as hollow as their faces
no valuable lightness 
is here to bare
no truth it seems to be 
at our pace

seven folded tales
of the untold dream 
are now revealed
torments of such great solitude 
i embrace, 
where faith and order fades
the prayers unreal, 
earn  
a god's lending hand 
that never feels

furthermore, in a devil's lore 
they claim 
disorderly in vain 
 that our romance is new
    but our hurling flame 
day by day
tightens 
like an
ancient morning dew

tracing 
to here 
where you stood 
in shame, 
shortage of wings
only a fury wirling
through 
those vessels

brought by 
torment
that beckons the essence
lost 
in promises of faith 
made by 
a stranger's prier

in native soils,
the riddles of this earth
unwinds
the weight of silence
 
a shortcut 
to emptiness, 
across
empires 
of consciousness
unraveling 
the true 
only inspiration
you can have
an offering
to a resigned 
alien nation 
in all it's might


perform the play 
you' re alive 
greet the hours
from the horizons
that through a limbo  
marked the flesh
out of our space 
haunted 
by delight 
still restlessly 
we aspire 
to go now








Todas as reações:


segunda-feira, 29 de julho de 2024

echoes of an early day home

 

This home as no heart
This heart as no soul

This soul shall never apart

I failed to feel, to see, to believe
to breathe
to heal
and seal
the eyes that all have seen

You re alone
always alone
at the end of it all
I curse what i feel
I feel that i curse
all that i loved here
and buried here first

But i still breed the fire
Always the fire
at end of it all



quarta-feira, 17 de julho de 2024

diários de bordo - lagos

Acordo e espreito pela janela...o deus dos trovões não dá tréguas hoje.

Chuva e vento comprovam como este se encontrava chateado com todos nós, e eu vou tentando comunicar como todas estas entidades omnipresentes desde a tua ausência, nesta ressaca silenciosa em que a memória do teu rosto resiste na tenacidade de um quarto escuro.


Hoje tinha pensado ir a Lagos. Adormecer no areal da Praia do Pinhão.
Não me perguntes o que esta cidade sempre teve de especial, pois eu próprio também te não sei responder. Talvez seja pela mobilidade de quem foge à rotina diária e desses mesmos rostos macambúzios, quase moribundos que te cercam, intimidam e como que te prendem a fala. Assustei-me no outro dia, enquanto tentava falar com alguém e não conseguia...apercebo-me cada vez mais de que as drogas têm esse efeito em mim...cavar cada vez mais fundo o abismo que me separa da nossa comunicabilidade.

Mas Lagos, Lagos....bem, de facto hoje faz sol em Lagos.

E é pela janela do comboio que espreito e te escrevo agora estas palavras no meu caderno de apontamentos e parece até que aqui a tal entidade divina e omnipresente já não se encontra mais chateada conosco.
Um nervoso miúdo invade-me, como me fosse reencontrar me contigo pela primeira vez desde daquela noite que nos conhecemos, talvez não seja Lagos mas antes sim tu o destino pelo qual eu tanto anseio. Algumas dúvidas antecederam esta vinda, que já estava planeada há muito mas que a falta de tempo parecia não querer permitir.
  
 Ao visualizar a Marina, ao sentir de novo essa brisa relembro-me novamente de ti e dos teus cabelos que dantes eram curtos e agora imagino-os longos, inquietos e selvagens...um dia virás aqui comigo também. Os locais falar-te-ão as mais belas praias do país e até mesmo os pequenos grupos de holandeses e alemães, os foreigners, cidadãos foragidos do rebuliço das cidades grandes te irão dizer que este é um lugar tranquilo para se viver.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

o espetáculo fatalista


um prenúncio 

que os curiosos escutaram 

ninguém mais necessitava de gritar

para se fazer ouvir

os mestres do engano

tomaram sempre este negócio 

como completo


espetáculo fatalista 

mundo ignóbil 

que num trago 

sublima a melancolia

sangue límpido que lá fora

continua tresandando a hipocrisia 

corrompendo 

nessa queda pela falsidade


devolvendo o gosto violento a vingança

em toda a sua essência








sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

think harder

think harder 


don't cure your head 

think harder 

don't raise your voice

think harder

nevermind the rumours they spread

think harder

democracy they say, is nothing but a fake illusion of choice

think harder

bleed the mind, to burst the ache

think harder

keep on falling under the same mistakes

think harder

cast the enochian keys, to seal the dimensions

think harder

further the climb, higher the fall

think harder

devoid of inheritance, outrageous perversions

think harder

a sun dance, held by magnificence

think harder 

amidst the haters, preach love

think harder

cold blooded war idols to raise the dove

think harder

a golden cow is sacred, find the valleys in the hidden earth

think harder

nothing is everything, yet they gave us a reality mutiny at birth

think harder

the meaning of it only is today, every day make it gain it's worth

think harder 

with heart's heavy as lead, mark words of love in the sand

think harder

from the roots to the top of trees, the bare fruit is peeled by this hands

think harder 

knock at the door, walk through fire at the devil's floor

think harder

astonished faces, chimed about an erotic secret to heal

harder as it may get 

from nothing 

all feverish traces are now reckoning new places to feel it


(...)

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Diários de Bordo - Amsterdam

 

Mein eerst besuch naar Amsterdam


Cheguei com D. de comboio durante a tarde. 

Provínhamos de Utrecht cansados, comentando o típico nacionalismo holandês que parecia colidir de frente contra essa imagem que há muito nos era projetada, a de este ser um pais liberal, onde quase tudo era permitido. Talvez essa excessiva "liberdade" esteja a tornar-se progressivamente um "pau de dois bicos" e as pessoas estejam por sua vez lentamente a tornar se mais conservadoras. 

Tudo isto simplesmente por causa de um tipo que tinha acabado de passado por nós, todo equipado com as três cores nacionais holandesas. Segundo D. era normal algumas pessoas vestirem-se assim, sapatos vermelhos, calções azuis e camisola branca por exemplo.

 Eu sorria sarcasticamente enquanto ouvia esta observação, nunca parava me de surpreender com todas essas idiossincrasias de cada povo, mesmo depois de vários dias seguidos a conviver com diversas culturas.


A meu ver para o artista o processo de procura sempre foi essencial, não digo nada de novo com isto, a vida imita a arte e vice-versa construindo-se a partir um número mais elevado de recursos nos nossos discursos criativos. Quanto mais limitado for a enciclopédia musical de um músico, limitada ou pelo restrita será o discurso. Daí não conseguir mais inserir me num "nicho" particular, seja o mundo "metaleiro" apesar de gostar de metal, não nasci a ouvir Venom nem Celtic Frost, cresci a ouvir Beatles, Guns n ' Roses, Nirvana tal como muitos deles, embora não o admitam, essa postura mais limitada ( ou restrita) pode funcionar para esse restrito grupo, para mim será sempre e sempre limitadora.

Viver consoante a vida de artista é poder extrair-se o conhecimento através da experiência criando ao mesmo tempo formulas de e conseguir sobreviver aos tormentos da vida com a concepção de um discurso que permita expor essas mesmas experiências, partilhar de um forma vivida um testemunho para a eternidade (...) 

Nos anos de adolescente confesso que passava muitas noites em claro, não é que agora durma melhor pois o sono agitado já há muitos anos que me é característica comum mas isto sucedia-se demasiadas vezes...normalmente depois de acordar deslocava-me quase sempre até à varanda do meu quarto passando horas e horas a tentar ver algo mais além de toda a realidade que me era projetada pelas luzes das casas em redor. Muitas vezes nem uma única luz acesa havia, todos estavam dormindo e nada havia ali que me permitisse ter uma melhor visão do mundo. Com isto dava me por mim a divagar mentalmente entre eras anteriores, como a época dos finais do séc. XIX, a época dos dandy's, dos poetas malditos e de toda uma imensidão de movimentos artísticos (Surrealismo, Dadaísmo, etc). Quando não havia televisão todos os pilares culturais eram sempre mais exigentes, não defendo com isto um elitismo ou uma presunção qualquer pois sempre detestei os emproados e snobs... gostaria apenas que houvesse muito mais curiosidade entre as pessoas, que estas desejassem sair mais vezes dos seus nichos culturais a que se habituaram e das suas picardias futebolísticas...que gasto de energias e tempo...em suma de tudo aquilo a que se pode de chamar "zonas de conforto" atrancadas a um determinado meio social. Criar as "ondas de choque" mesmo que seja através do conflito e provocação é sempre um mal necessário...tem que haver sempre um maluquinho qualquer a jogar-se para o "front line" como que bode expiatório para a degola, pois só assim todos os nichos serão confrontados com outras realidades distintas e discordantes. Viver em sociedade é saber coexistir e conviver com a diferença e saber que necessariamente o outro não terá que estar impressionado ou sequer interessado em tudo aquilo fazemos ou tomamos com certo ou errado...no entanto importa sempre saber que somos um precipício de mundos de que apenas revelamos as pontas do iceberg...tirar conclusões precipitadas e castradoras acerca do outro apenas demonstram a nossa própria limitação, não a da pessoa em questão. Sim meu caro, é apenas a ti mesmo que tu estás a apontar o dedo. Não me conheces o suficiente para me julgares seja como for...

 Foi este o meio que me foi dado neste mundo para se poder viver, digo isto principalmente em relação ao aspecto familiar visto que grande parte da minha família é quase toda originária de uma pequena aldeia do interior alentejano, onde raras são as pessoas que têm mais do que a 4 classe. O facto de eu poder ter chegado a tirar um curso já poderia por si só ser visto aos olhos de alguns como privilegio, só que ninguém sabe ao certo como lá cheguei, os sacrifícios necessários etc... Talvez seja aqui que o povo português fica muitas vezes a perder em comparação com outros países mais evoluídos, não é só a sua incrível falta de solidariedade com o próximo, a incapacidade de se elogiar alguém...é a incapacidade de entenderem que nem todos têm o mesmo background familiar o que por consequência vai sempre influenciando o núcleo de amigos que se aglomeram em nosso redor. É a total incapacidade de se conseguirem por no lugar do outro, ver como certos obstáculos condicionam e vez de estender a mão...serão ainda capazes de usar isso como beneficio próprio, se necessário corta-se a corda para impossibilitar a subida ao outro em prol de nossos umbigos...só age assim normalmente quem inconscientemente os que se interessam demasiado por "status" ou lá o que isso seja...pois sabem igualmente de uma forma inconsciente ou até perfeitamente lúcida que muitas vezes esses mesmos "status" foram sendo alcançados mais à custa de ajudas e favores do que pelo mérito próprio. 

A meu ver esses é que são os verdadeiros parasitas, não os que apenas procuram o seu espaço sem que para isso tenham que se prostituir ou venderem as suas almas. 

Creio que importa no entanto sempre reforçar a importância das pessoas a tentarem comunicar, a (re)pensarem, a eliminarem todas as suas divergências e a partilharem entre elas. 

Libertar o "solar plexus" como diria certamente um entendido nas matérias de Yoga. 

Retornando ao início do texto, se pudesse voltar atrás no tempo, eu retornaria até mesmo ao período da civilização grega para ver como todos os princípios civilizacionais foram deturpados ao longo dos séculos.

 A televisão e os média provocam atualmente em nós o mesmo efeito reversivo que a igreja provocava nas pessoas da idade das trevas mas a verdade é que por vezes o sistema parece estar prestes a arrebentar pelas costuras, as pessoas não aguentam mais. Podemos assim talvez estar prestes a entrar numa nova era com o finalizar anunciado da antiga, na forja de toda uma nova "civilização grega" seja possível reaprender de novo todos os princípios básicos de uma civilização.


De volta a Amsterdam, durante a tarde junto ao Damrad D. mostrou-me onde se podia alugar bicicletas a um preço relativamente acessível a melhor maneira de conhecer esta cidade era de facto andar de bicicleta e interagir com os locais, a bicicleta holandesa tem uma estranha forma de se guiar. Para se travar é preciso pedalar ao contrário o que pode causar alguma confusão ao início, houve uma vez por isso mesmo que estive quase a bater num carro enquanto saía do Vondelpark. Trazia um pouco de erva que tinha comprado num coffe-shop onde trabalhava uma bonita mulata com o seu penteado à Bettie Davis que com a sua voz tranquilizante recomenda a experimentar Sensimilla. Sentei-me no coffe-shop aonde era o único cliente, tratava-se de um espaço igualmente agradável assim como a música e tal como a voz da "Bettie". Tudo isto levava-te facilmente a fluírem, permanecia sentado com a cabeça e as costas encostadas na parede, olhos semicerrados mantendo um sorriso tranquilo para a empregada e o mundo de repente parecia de facto um lugar melhor naquele momento. Encontraria alguma paz de espírito também no dia seguinte, estava deitado na relva do Vondelpark  e enquanto enrolava mais um joint daquela sensimilla ( compraria mais para levar) seguia observando uns músicos de rua a tocar, desta vez dois instrumentistas de sopro e uma cantora de baixa estatura, carismática e com uma voz vibrante que conseguia superar todo o frenesim das pessoas que por ali passavam, umas de bicicleta outras a passearem os seus animais. Foi ali que encontrei o meu momento de paz no caos de Amsterdam. Estive hospedado numa pousada cristã chamada The Shelter que era a mais barata das pousadas na cidade que tinha conseguido encontrar numa lista de pousadas. Um tipo húngaro que lá trabalhava, com o seus cabelos compridos e o bigode igual a Átila o Uno, metia-se constantemente comigo perguntando-me de onde era, isto enquanto estava sentado na parte de cima do meu beliche tentando ler um livro qualquer que não me recordo agora. Na noite antes tinha estado a ver um jogo qualquer do Ajax no Hill Street Blues Bar, com 2 americanos que não percebiam nada de futebol europeu, no meio da confusão do bar íamos tentando entender o que é que distinguia o futebol europeu do futebol americano. Já bastante embriagado e ainda stoned mas com nítidas dificuldades em manter o controle cheguei assim à pousada, a recepcionista polaca que conheci durante a tarde quando resolvi enviar postais para o I. (o tipo do norte que tinha conhecido durante a minha estadia em Barcelona).A recepcionista após uma breve conversa resolveu dar-me um livro qualquer , tipo “O Sentinela” em Portugal que apregoava entre outras coisas à importância da família, ajudar os “ceguinhos” a atravessar a estrada, etc...sempre afável no trato via-se que se esforçava por manter uma postura imaculada, sorria timidamente e em desaprovação cristã cada vez que eu lhe falava em algo que a poderia querer fazer desencaminhar. Foi nítido o seu olhar de reprovação para a colega quando ambas me viam chegar nessa noite e no dia seguinte o estranho rapaz húngaro só se limitava a sorrir para mim e a dizer com o seu sotaque dos cárpatos "You're crazy,you´re crazy...we needee to go oute man, have some drinks go to the girrless...man you're crazy" dizia me ele enquanto arrumava as toalhas nos restantes beliches do quarto. Nunca cheguei a sair com o "Átila" pois a partir daquela noite resolvi distanciar-me das pessoas da pousada,gostei de conhecer um estudante de arquitectura de San Diego que me falou bastante sobre a costa californiana e descreveu-me o famigerado Big Sur (parte da Costa Californiana que aparece descrita nos livros de Henry Miller e Jack Kerouac) gostei também de um rapaz africano que coxeava e andava de muletas dos Camarões,nós tivemos o nosso belo momento de conversa ao pequeno almoço enquanto ouvíamos Bob Marley do seu mp3 e cantarolamos para um grupo de teenagers americanas que estavam ali sentadas connosco.Connosco estava também um rapaz da República Dominicana, depois da conversa com o americano ambos começaram-me então a fazer perguntas sobre o meu país ao que eu ia respondendo com entusiasmo enquanto eles limitavam-se a fingir estar interessados no que dizia,ia apercebendo-me de tudo isso mas nem assim conseguia resfriar o meu discurso, já que as americanas pareciam por sua vez estar atentas e sorridentes a tudo ao que eu dizia. Na noite de despedida em Amsterdam era para ter ido ver um concerto da banda belga dEUS no salão de concertos Paradiso, só que infelizmente acabou por ser cancelado devido a problemas de garganta do vocalista e enquanto passeava-me pelos canais pela última vez um vagabundo tentou cravar-me trocos, tentando mostrar-se mais poliglota do que realmente era, apercebi-me logo disso e acabei por não ceder aos seus constantes e quase insuportáveis pedidos, quando me sentei num banco perto do Damrad para enrolar um cigarro, mais uma vez acabei por ser abordado por um tipo estranho e calado limitando se apenas a sentar-se mesmo ao meu lado, com um sorriso, sem proferir uma palavra, só sentia a sua respiração quase suspensa e atenta a mim...levantei-me imediatamente...Durante o último dia assisti também a um despejo de uma casa de okupas com todo o aparato da polícia de choque, com os seus escudos, bastões e capacetes em contraste com um grupo de cerca de 20 anarkas magrinhos que se limitavam a fazer os seus gritos de ordem,isto com os média a tentarem não perder pitada e um helicóptero visionando toda a operação através de um espaço aéreo. Achei tudo aquilo ridículo e quase surreal para um país que tanto vendia a imagem de liberal e permissivo, com talk shows em horários nobres com várias personalidades experimentando todo o tipo de drogas existentes e relatando depois os seus efeitos em directo, um verdadeiro prato de estupidez servido pelos média holandeses, com todas aquelas “vedetas televisivas" servindo de cobaias, tudo transpirava a hipocrisia e a máscara do controle policial caía ali naquele momento o que me fazia aperceber que Amsterdam apesar de ser uma cidade fascinante, a Veneza do Norte como alguns a chamavam, não era exactamente o reino dos "Paraísos Artificiais" que se idealiza na adolescência. A aventura terminou quando optei por ir para o aeroporto por volta das 03h00 da manhã terminando assim com os meus quase dois meses de viagens, na minha mente já não pensava sequer em português, transportava uma miríade de rostos e idiossincrasias , sentia-me mais forte e rico pois havia conseguido sobreviver sempre com poucos meios. Perfeita foi a minha companhia no avião para Faro. Era um feriado importante na Holanda e existe habitualmente um número razoável de holandeses já de uma certa idade que se deslocam nessa altura ao nosso país, atraídos pela qualidade da vida rústica do turismo rural das vilas alentejanas. Entretanto o senhor que se sentou a meu lado era médico sem fronteiras e foi-me partilhando algumas das suas histórias e experiências de vida que como viveu por exemplo na altura o tsunami na Tailândia. Esta última viagem passou-se fugazmente e despertou-me para a importância da medicina nas nossas vidas e como felizmente para nós continuam existindo estas pessoas, sempre predisposto para ajudar, os verdadeiros "bodhisattvas" entre os outros, benditos sejam então, se não fosse o facto de elas também viverem entre nós muito provavelmente já não existiria mundo.

Obrigado.


Ed van der Elsken

O fotógrafo e realizador holandês que retratava a "sua" Amsterdam em 1983, retrato esse que podemos ir visualizando numa série de pequenos vídeos que para já vão estando disponíveis no You Tube.

 Uma verdadeira preciosidade que vale sempre a pena espreitar.





quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

I, God

 “What is my joy if all hands, even the unclean can reach into it? What is my wisdom, if even the fools can dictate to me? What is my freedom, if all creatures, even the botched and the impotent are my masters? What is my life, if I am but to bow, to agree and to obey?


"I am done with this creed of corruption. I am done with the monster of "we"

"I see the face of God and I raise this god over the earth, this god whom men have sought since man came into being, this god who will grant them joy peace and price.

" This God is one word:

"I"