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quarta-feira, 20 de junho de 2012

Diários de Bordo - Impressionismo em Paris

                                                                     
 Perante a inesperada expectativa de uma mulher com ares de modelo em que eu lhe comprasse um quadro que não passava de uma imitação barata dos pintores do impressionismo talvez Degas não me recordo agora, isto numa loja no bairro chique de Marais eu disse-lhe que pretendia um dia tornar me uma personagem de banda desenhada...não, agora mais a sério, sorri como um bom cavalheiro e arrepiei caminho.
  Sem as pretensões elitistas de grande parte das pessoas que se cruzavam pelo meu caminho, homens calvos e baixos de fatos Armani com modelos loiras altíssimas, lojas com fachadas Art Noveau...enfim é Paris, França. Longe vai o tempo dos guerreiros gauleses como Vercingetórix que cobriam os cabelos com banha. Nos bairros mais suburbanos povoados por marroquinos, argelinos e restantes povos do norte de África o sentido estético destes não deixava de ser estranho, quase egocêntrico, americanizado, as marcas de roupas que encontramos nas feiras cujo os rótulos se assemelham aos que são feitos na América...o que nos deixa com a ideia de que este tipo de franceses procurava ser uma imitação não assumida apenas por orgulho tolo dos americanos, não o típico gaulês atenção...esses eram como os pequenos gauleses loiros de olhos azuis que brincavam junto ao Centre Pompidou, ou como o pai rude no olhar e na fala que segurava a criança ao colo no comboio nocturno que fazia o percurso de Hendaye até Paris. Vi tipos bem vestidos que parecem me o Luis Garrel de mão dada com tipas loiras aos caracóis cujas feições lembravam-me Sophie Marceau isto no Quartier Latin ao olhar para a montra de uma livraria vi também uma mulher sexagenária a passear o seu cão,uma mulher que podia muito bem passar por uma qualquer actriz reformada como Jeanne Moreau ou Brigitte Bardot e até as esbeltas garçonettes dos cafés me lembravam actrizes de cinema, sentei-me no primeiro andar do Les deux Maggots só para sentir a perspectiva de onde Hemingway escreveu o seu A Moveable Feast isto entre os olhares de desdém dos turistas americanos e até dos empregados que olhavam para as minhas calças de bombazina quase desbotadas e  ar de vagabundo, fiquei um ou dois minutos a contemplar essa mesma perspectiva e a imaginar-me no lugar do escritor até que fugi, antes que o empregado me viesse perguntar se queria tomar alguma coisa, algo que já tinha feito por exemplo no Martinho da Arcada em Lisboa onde me sentei no mesmo lugar onde Fernando Pessoa tinha o hábito de se sentar, o lugar do retrato de Almada Negreiros. Voltando de novo a Paris, devo confessar que sentia-me mais desenvolto quando sair de noite fazia tudo mais sentido, tornava me mais desenvolto, mais sensível ao saudar nocturno da cidade, que era muito próprio e individualista, de beleza inconfundível sempre, sensual, delicada...isto não é nenhuma novidade visto ser a cidade do absinto cantante e das bailarinas de Cancan que ficaram imortalizadas pelo pequeno/grande Toulouse - Lautrec, torna-se assim fácil perpetuar-nos numa tela a preto e branco e quase imaginarmos a Jean Seberg a dizer "New York Herald Tribune" nos Champs- Élysées. Tenho vindo a encontrar alguns portais através desta minha estranha viagem. E cada vez mais apaixono-me por esta dama que distintivamente nos faz perder nos seus segredos, esta cidade vulnerável que se parece aos poucos apoderar da tua alma. E eis que paro de novo junto do Sena e do cansaço de andar de mão dada com todos os fantasmas do passado, sinto os fluírem lentamente por mim, como que exorcizados e livres e para isso  bastava-me apenas cerrar os olhos sentia-me ainda enclausurado em mim próprio muitas vezes e as pessoas pareciam notar isso, como foi o exemplo o caso de um simpático e  atencioso casal americano alfarrabista que terá 
tentado depois aprofundar uma conversa comigo sobre o Socialismo e certos movimentos libertários. Confesso que se calhar também na altura não teria ainda toda a informação para falar abertamente sobre esses assuntos. Por sua vez parava para fixar-me durante alguns minutos em todos quadros antigos a preto e branco de uma loja de antiguidades que me causaram fascínio ao mesmo tempo que intimidavam. Um outro alfarrabista, este francês depois de me perguntar se eu escrevia oferece-me flyers de concursos de escrita criativa. 
Uma loja de utensílios de Absinto e de cartazes art nouveau, tudo na mesma rua algo me fazia sentir de facto estar na zona certa da cidade.



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