Saudades de um dos festivais que se realiza em um dos locais mais lindos deste pais.
Recordo-me perfeitamente da última edição em que estive presente.
Foi em 2011 precisamente no dia a seguir a ter abandonado o meu trabalho no aeroporto de Faro. Depois de uma viagem de autocarro do Porto até Arcos de Valdevez e de não ter conseguido que nenhum dos emigrantes nos carros luxuosos com matricula suíça ao regressar das festas das vilas em redor parasse os seus carros luxuosos para me dar boleia acabaria por fazer todo os 25kms a pé de Arcos de Valdevez até ao recinto do festival durante a noite.
Tendo aproveitado apenas para dormir algumas horas junto a uma ponte com uma vista arrebatadora para uma linha de enormes pinheiros que se erguiam em direcção do céu estrelado, com os seus ramos caindo como sombras pelo vale.
Acabei por chegar cedo pela manhã ao recinto, sendo provavelmente um dos primeiros a chegar nesse dia. Consequentemente os dias foram sendo aproveitados com os concertos que duravam desde as 15h00 até às 04h00.Esta tudo à pinha e se querias ver os concertos perto do palco tinhas que furar entre as pessoas sendo depois bastante difícil sair. e manhã aproveitava se para mergulhar na praia fluvial e depois descontrair com uma toalha isto enquanto ouvíamos os sons provenientes do Palco Jazz na relva. Depois do festival terminar ficaria alguns dias mais acampado numa parte mais escondida da praia, enquanto aguardava pelos últimos dias do mês para poder ter à mão o ultimo ordenado do aeroporto, nisto ia me alimentando com umas maçãs, umas madalenas e uma garrafa de vinho, oferta que um dos simpáticos grupos de resistentes que estavam numa Van (malta do norte). Da vila também levo as melhores recordações, mesmo durante esses dias a seguir ao festival em que vagueava pelas ruas vazias à noite. Muito provavelmente pensariam algo do género "olha este perdido resolveu cá ficar a viver". Recordo me bem de um dia em particular, em que resolveu chover tempestuosamente, isto enquanto eu nadava nas águas frias daquela praia, tendo que ir a correr para me abrigar na tenda aonde permaneci até à manhã do dia seguinte enquanto parecia desabar o mundo lá fora entre trovoada e chuva torrencial. Foi nestas condições apenas com a luz da lanterna dentro da tenda que resolvi iniciar a minha leitura do "Just Kids" o livro da Patti Smith que tinha comprado apenas a alguns dias antes e fiquei de tal maneira fixado durante os dias seguintes acabaria por passar horas a fio deitado no areal embrenhado na minha leitura, fascinou-me de tal forma que senti de novo o despertar dos ímpetos criativos que já há muito tinha desistido de tentar estimular, fosse apenas a vontade de voltar a desenhar, o querer escrever mais( escrevi um texto chamado "a prayer for a rock n roll heart" nesse mesmo dia) mas talvez principalmente o sonho de tentar voltar a fazer algo na música, o que não deixava de ser estranho visto que já se tinham passado vários anos desde a ultima vez que tinha tocado numa guitarra.
Foram bons tempos sem dúvida.
Foram bons tempos sem dúvida.