Lembro me que até já conhecia Maiden e AC/DC mas no verão que conheci os Metallica foi quando pensei realmente em tornar me "metaleiro". Nunca tinha conhecido nenhum por isso resolvi apenas tentar imitar los.
Os 4 Cavaleiros do Apocalipse do Kill em All, tinham amadurecido e no meio daquela vestimenta preta, havia a crença de representar o luto pelo seu baixista e a meu ver maior génio criativo. Quando os conheci tinham um "Album Negro".
E vestiam se de negro.
Achava os, por isso tudo, os tipos mais rebeldes do mundo.
Quando voltei às aulas, no ano seguinte vesti também umas calças justas e uma camisola preta . Apenas é só preta. Pulseira de cabedal e o típico cabelinho "à fodasse", para utilizar outra expressão muito vulgar dos anos 90. Lembro me bem de um colega que tinha transitado do ano anterior vir perguntar me com ar de espanto "então mas tu agora és metálico?"(sim pq naquela altura muitos ainda usavam a expressão "metálico"...metaleiro é outra coisa de sec XXI) Ao que eu, com orgulho e de peito inchado respondi-lhe "sou". Havia algum escárnio na forma como esse mesmo colega fazia me essa pergunta e sinceramente eu não queria nem saber. Usei essa camisola com orgulho, tal como disse, fui a todo o tipo de festivais, conheci um número razoável de pessoas não só do metal, mas também do punk, do reggae etc. Troquei correspondência com pessoas de vários países. Um dia farei aqui uma compilação dessas entrevistas para o projecto "Myth Zine" a fanzine que nunca cheguei a publicar. E até pelo menos aos meus 18, 19 anos fui de facto um "metálico" de corpo e alma. Mas isto foi até começarem a surgirem as primeiras diferenças. Os primeiros interesses musicais fora do metal, as primeiras divergências políticas, tudo parecia motivo para a discórdia . Os mais rebeldes revelavam se cada dia paradoxalmente aos meus olhos tão ou mais conservadores do que quaisquer outras pessoas que na altura conhecia.
E quando desisti das bandas, resolvi assim dar esse capítulo como finalizado, e despir essa camisola de "metálico" de uma forma radical.
Peguei em vários sacos com k7s, demos, fanzines, etc e desatei a oferecer tudo ao desbarato. Nem me preocupei em vender...apenas desejava um corte radical com tudo.
Acho, no entanto, que terá sido mesmo a primeira e última vez na vida que disse e com orgulho, pertenço "a algo", de resto nem metaleiro, nem satânico, nem cristão, nem hare khrisna, nem punk, nem nazi, nem comunista.
Eu sou eu, só isso, amálgama de vários interesses.
Vivi sete vidas diferentes no entretanto.
E ao meu ver, há malta daquele tempo que continua ainda a ver tudo a preto e branco.
A música, para mim, de certo modo é um pouco como o alimento da alma.
Esta torna-se parte de mim, faz parte dos meus gestos, das posturas, da forma de comunicar, etc.
Imagine-se um tipo auto destrutivo como era só ter ouvido depressive sounds ao longo destes anos todos, bem se calhar já cá não estaria.
De vez em quando tornam se necessários outros nutrientes.
Para renovar a alma, torna-se necessário um outro tipo de alento.
Como uma terapia, no entanto, uma ou outra em excesso podem tornar-se igualmente tóxicas.
Para o equilíbrio emocional ambas as vertentes tornam-se por isso essenciais.
Por vezes ter que voltar a expelir a raiva, tristeza, revolta, etc é o caminho certo.
Pode até ser o único caminho.
Estes factores depois é que determinam os géneros musicais que me interessam. E não o contrário.
Henry Miller também passou por um período muito difícil em seus primórdios, quando decidiu acreditar em uma carreira como escritor quando se mudou para Paris, numa época em Paris ainda era o epicentro de todos os movimentos artísticos.
O contraste com o primeiro livro de Hemingway, cuja trama se passa igualmente em Paris (Paris est une feste) e sensivelmente escrito na mesma altura, é ,na minha opinião, impressionante.
Este foi também o seu primeiro romance, afirmo-o sem certezas, mas só terá publicado antes um ensaio sobre o poeta francês Rimbaud, creio eu.
Ao contrário de Easy Rider (1969) ou Zabriskie Point (1970), Vanishing Point (1971) não marca a utopia de uma era, marca o fim dessa era.
A trágica viagem de Kowalski faz dele, de facto, aquele que desafia a autoridade e falha inevitavelmente.
Poderia ser vista igualmente como que a última viagem dos anos 60, num rumo definitivo à liberdade ou ao seu final.
Quentin Tarantino presta homenagem a este filme de culto com Death Proof (2007), fazendo do mesmo Dodge Challenger branco a estrela do seu próprio filme.
Faleceu um dos fotojornalistas que mais marcou a história da fotografia em Portugal.
Tentou seguir sempre o compromisso de mostrar o Portugal dos desfavorecidos, e o salvo conduto que obtinha por trabalhar em jornais conceituados, deu-lhe acesso a muita coisa, mas também não o livraria de ter alguns problemas com a PIDE.
Mais tarde, com a queda da ditadura, estaria presente in loco para fotografar a transição desta para o estado democrático.
Criando algumas das imagens mais icónicas desse mesmo dia e de todo o seu trabalho.
Este ano, vi-o descer na Av. da Liberdade, na habitual parada do dia 25 de Abril, acompanhado por um familiar numa cadeira de rodas e com a saúde aparentemente já bastante debilitada.
Consta-se, que não terá perdido uma única parada de 25 de Abril até ao fim da sua vida.
Por aqui, creio que importa também constatar o quanto representou para si, sempre, o tal feriado.
Ah, o anseio pelo comum, pelo que todos conseguem consumir sem qualquer esforço
– eis o veneno que obscurece a percepção dos criadores.
“(...) É preciso livrar-se do mau gosto de querer estar de acordo com muitos. "Bem" não é mais bem, quando aparece na boca do vizinho. E como poderia haver um "bem comum"? O termo se contradiz: o que pode ser comum sempre terá pouco valor. Em última instância, será como é e sempre foi: as grandes coisas ficam para os grandes, os abismos para os profundos, as branduras e os tremores para os subtis e, em resumo, as coisas raras para os raros.”