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quarta-feira, 23 de maio de 2012

Diários de Bordo - Vila Nova de Milfontes






Vila Nova de Milfontes   


as ruas começaram a ficar desertas
pelas nove horas da noite
e a noite lenta
arrastava se reptiliana 
desde a travessa do arremedo 
até à esquina
de onde espreita nos um bar
o bar dos lobos do mar e dos capitães sem medo
uma vez lá dentro 
toda a serenidade é reconfortada
com a impermanência dos licores
entre memórias e palavras multicolores, 
o desejo alheio de fugir
sempre a comandar a demanda
 
em toda a sua lucidez 
erguia-se o luar,
tecendo a superfície de todo um altar

- sem lume para mais um cigarro.

virás tu comigo um dia regressar 
a esse reino 
de bobos e charlatães?!
-  sorvidos por um culto
que com as trevas reveste
as ruas estreitas, de onde 
se ergue o pássaro da noite vetusta
espreitando o prazer 
no vascular do corpo celeste

na alegre selvageria da noite, espremendo uma gota mais 
sem cura, sem escolha nas perdições dos demais
a resposta procurada no álcool 
no praguejar durante um jogo de futebol

da escadarias até à praia
pelos sulcos das marés movem-se brisas,
e ao ritmo das ondas, arma-se o silêncio
ressoando e respirando entre nós cegos
na crispação da noite que agora nos cercou
um profano desejo nos aniquilou
prenúncios de um caos nocturno , 
a comoção de quem esculpiu a carne poema e a inaugurou
tecendo as tramas pelas ruas imaginárias do teu rosto.
compreendendo a culpa, cantando o blues


mundos subversivos que fielmente sigo
as longitudes e comoções, arrastadas pelas recordações
lumes trêmulos que ardem dentro de um santuário, 
esquecidas formas nas suas cidades indefinidas 
de todas as formas
estaremos mortos e no inferno 
quando eles finalmente se lembrarem de escutar a canção 
que provinha deste bar

- it's the vomit express of a midnight brain
 
quatro da manhã, 
uma moeda apenas no bolso 
para uma cerveja mais
a barmaid pede te para sair, 
a náusea 
impede te agora de sonhar
por todas as ruas, as flechas de fogo
sobrevoam 
no seu negrume 
e o luar segue nos 
sempre espreitando sobre as falésias.

adormeço de novo
ou continuo seguindo
os teus passos na areia ?!










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