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sexta-feira, 13 de maio de 2016

o clube dos poetas farenses

Ainda voltando ao António Ramos Rosa de referir que apenas uma vez o terei visto pessoalmente, não me recordo bem mas terá sido mesmo na biblioteca em Faro que posteriormente "adoptou" o seu nome. Olhando para aquilo que foram os últimos anos apercebo-me que não é apenas na música que têm vindo a desaparecer os grandes nomes. Vejo o mesmo aos poucos  ir acontecendo com todas as nossas grandes referências literárias. Para te dar alguns exemplos passo rapidamente a citar nomes como Luiz Pacheco, Al Berto e o já referido António Ramos Rosa assim como mais recentemente o Herberto Hélder. Não é um poeta fácil eu sei...mas entre os amigos farenses era o mestre.

Tão simples como 2+2=4


  Eu pessoalmente nunca me sentia escritor, muito menos poeta...acho que para tal tinha que ser mais assíduo e produtivo naquilo que escrevo. O que acontece às vezes e apenas somente às vezes e que consigo sentir certos rasgos de inspiração que resultam numa necessidade de me expressar através da escrita...consigo igualmente sentir que muitas dessas vezes são as pessoas que me rodeiam e as vivências que alimentam todo um imaginário que inspira e motiva a fluidez necessária para a criatividade. O facto de recorrer regularmente a imagens fragmentadas, sejam de cinema, sejam de pintura, deve-se por desejar manter vivo um interesse inerente a todas as artes. Vou fazendo o que posso e ninguém será alguma vez mais exigente comigo do que eu próprio. Pensei muitas vezes que gostaria de voltar a dedicar a outras formas de arte e nunca escondi que me interessava um dia poder voltar a formar banda. Desde que houvessem pessoas com disponibilidade e paciência para colaborarem com alguém que não tem uma grande formação musical nem "gear" suficiente ainda mas que terá por sua vez uma grande vontade em aprender e evoluir. Regressando à poesia, farei os possíveis para que possa sempre valorizar o trabalho de todos daqueles que se dedicam de corpo e alma a esta arte. Em Faro tive a sorte de ter conhecido bons poetas, mas mais ainda tive a sorte que estes fossem igualmente alguns dos meus melhores amigos.Era o caso do Valter (Alexandre Dual) e em comum entre nós havia um passado com um espírito mais "metaleiro" e a paixão pelos The Doors. Podíamos entrar em conflito cada vez que discutíamos futebol apenas por defendermos cores diferentes, mas era tudo sempre dentro de um certo "fair-play" ou como quem diz dentro de um respeito e admiração mútuos. A escrita do Valter talvez fosse a mais "académica" e segmentada de nós todos, visto que ele era o único que tinha a licenciatura completa no curso de Línguas e Literaturas e não será à toa que também é o único que terá livros publicados. O Tiago Marcos, natural de Cuba do Alentejo para além de ser letrista e guitarrista nos Esfinge era um bom escritor de prosas e contos. Com todo o seu lado bucólico que a mim tanto me lembrava por vezes o José Luís Peixoto. Tinha também a particularidade de ser marinheiro de profissão, creio que tenha regressado ao Alentejo aonde vive com a sua companheira, não sei nada dele há anos. E depois uma das pessoas que mais me marcou e influenciou em Faro foi o "poeta" na pessoa que conheci até hoje que mais viveria com um verdadeiro poeta. Refiro me a Rogério Cão. Natural de uma pequena aldeia do concelho de Famalicão para além da amabilidade das pessoas do norte, revelava também o "espírito livre" de quem se deixava embriagar pela noite para depois poder escrever la pelo seu dorso. Influenciado por artistas como Mário Viegas, Cesariny ou Ary dos Santos era igualmente um excelente declamador. Das memórias que guardo do Rogério, a que talvez guarde com mais saudade terá sido quando fomos convidados a ir até á pacata vila alentejana de Vila Ruiva. Para além de termos ido apresentar a nossa curta metragem, fui igualmente convidado para filmar os concertos. Mas antes que começassem os concertos foi a vez do Rogério "encarnar" a sua personagem e deambular de porta em porta pela vila declamando poemas e juntando todas as pessoas à sua volta. Aos poucos, já caminhávamos todos em fila indiana parecendo estar numa autentica procissão na qual iam participando pessoas de várias idades. Esta versão da Matilde, creio que no entanto não faz justiça a todas as suas qualidades como declamador, acho que ele aqui exagera um pouco no "drama" embora ache que esteja bem acompanhado, neste caso pelo músico farense Francisco Aragão, companheiro de longa data e conhecido nosso de participações em várias bandas e com o actor Nuno Ferreira (Nuninho) um outro conhecido entre todos nós.
Escrevo-os a todos, para que assim não me esqueça da ultima vez, que tive de facto alguns amigos no meu quotidiano.
 E, escrevo-os porque desejo retomar quanto antes a um quotidiano assim.








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